Eu já falei em outra coluna de Hacks, minha série de comédia preferida dos dias de hoje.
Semana passada estreou a nova temporada da série na Max e lá fui eu ver os 2 primeiros episódios lançados.
Eu estava super feliz em continuar as peripécias da super estrela do humor Deborah Vance e sua assistente malucona Ava, quando finalmente, ao final da terceira temporada, Deborah é contratada por um canal de televisão poderoso para ser a primeira apresentadora de um talk show nos EUA.
E por lá o talk show é uma instituição nacional.
Aqueles programas de entrevistas que vão ao ar tarde da noite nos canais abertos são considerados sagrados, até então só com comediantes homens apresentando, desde que a televisão existe.
Esses homens viram referência nacional, se tornam super celebridades e super milionários, com salários tão altos quanto sua influência na cultura pop americana.
E eu estou falando da vida real, para dar noção à importância de uma série como Hacks ter chegado a esse nível de ideia transgressora de colocar pela primeira vez na história uma mulher apresentando um programa desses.
Para quem não acompanha a série, primeiramente você deveria assistir porque vai rir até a barriga doer e o maxilar cair.
Segundamente vai sofrer na mesma medida porque a gente sabe que o palhaço só é engraçado quando está com a cara pintada no meio do picadeiro do circo, certo?
E aqui não é diferente.
Deborah Vance, a personagem, é considerada uma das maiores humoristas da história.
E no outono de sua vida, ela é contratada por um cassino de Las Vegas como residente, trabalha lá diariamente fazendo seu show sempre totalmente esgotado, ganhando seus milhões, vendendo produtos em canais de compras, tudo isso tendo que lidar com problemas familiares gigantescos, com preocupações com a “velhice”, com o cabelo que esta caindo, com a falta de libido, mas nunca deixando transparecer para sua audiência e seus fãs.
Eu diria que Hacks é a comédia mais dramática que está no ar. E eu amo.
Quando assisti o último episódio da terceira temporada, o episódio que Deborah Vance recebe a notícia que está contratada pelo canal de televisão, escolhida para ser a apresentadora do Late Night, fiquei bem feliz e pensei “finalmente um final feliz, que venha a próxima temporada”.
Um ano e alguns meses depois veio a próxima temporada. A quarta temporada.
E quando fui assistir os 2 primeiros episódios semana passada, como já disse, tive uma surpresa que me deixou chocado: eu não tinha assistido o último episódio da temporada 3.
Eu tinha deixado passar o ultimo episódio e passei 1 ano feliz de bobeira.
Sim, porque quando vi o episódio perdido, meu mundo caiu.
O humor desesperado e dramático e agora violento tinha sido escrito em um episódio genial, inesperado, totalmente surpreendente, perfeito para ser o episódio final de uma temporada de sucesso.
Por um lado fiquei chocado por ter deixado de ver o final quando deveria ter visto, 1 ano e tanto atrás.
Mas por outro pensei: que alívio!
Porque eu passei os últimos 14 meses feliz pela Deborah, pela Ava e pelo povo todo.
O que teria sido muito diferente se tivesse visto o que não vi, a tensão desses meses teria sido gigante.
Conclusão, caro leitor: acho que o “destino” fez com que eu perdesse a final da temporada 3 para me poupar de sofrimento a longo prazo.
E como eu sim acredito em destino, eu o agradeço por isso.
O choque que eu tive ao ver os 3 episódios de uma vez me deixou com dor no peito e uma pergunta, retórica, claro, mas uma pergunta importante: quem são essas pessoas maravilhosas que primeiro criaram essa série e segundo escrevem esses episódios incríveis e conseguem dar tantas cambalhotas na história que continuam nos encantando a cada semana de lançamento?
Isso tudo pra dizer que roteirista bom, que sabe o que faz, como faz, cheio de boas ideias e de ousadia, é cada vez mais raro num mundo onde séries e mais séries são lançadas todo ano e somem com a mesma velocidade que aparecem.
Hacks vai ficar para sempre.