Em dezembro de 2020 e janeiro de 2021 eu fiz uma viagem de carro pela Inglaterra e Escócia com a minha filha, então com 6 anos de idade.
Tínhamos paradas programadas para ver monstros em lagos escoceses, castelos onde filmaram Harry Potter, altares de pedras gigantes celtas e outras coisinhas mais.
O que também indicava a direção da nossa viagem eram shows que apareciam pelo caminho, como o Primal Scream no ano novo, por exemplo.
No carro sempre estávamos com o rádio ligado e as 3 músicas que mais ouvimos foram “a do Aladim”, “a de amorzinho” e “a do cemitério”, como Isabella as batizou e que levamos para nossa vida com essas alcunhas.
A do Aladim era Bitter Sweet Symphony do Verve, a que mais ouvimos, porque para nossa sorte, não parava de tocar nas readios da toda ilha de Albion.
A de amorzinho era Yellow do Coldplay, o que também para nossa sorte foi um bálsamo, antes da fase insuportável da banda do pirolão.
Agora, para minha surpresa, uma música que não parava de tocar no rádio onde quer que estivéssemos passando era a tal música do cemitério, o hino One Armed Schissor, do At The Drive-In.
O ano de 2000 tinha sido um ano lindo cheio de discos incríveis e Relationship of Command dos punks cabeludos do Texas tinha sido um dos que eu mais ouvia. E tocava. À época eu era dj residente do Grind d’A Loca e sempre mandava essa porrada no meio dos meus sets, o que em princípio assustou a molecada mas aos poucos eles começaram a pedir pra eu tocar assim que me encontravam pelo clubinho lixo da Frei Caneca.
Voltando ao carro, ouvíamos tanto que minha filha meio que decorou a letra e a gente cantava gritando pelas estradas, como se deve, por semanas e semanas viajando pelo inverno que não nevou, sendo que trocamos os anjos de neve por anjos de serração.
Corta para o meio de janeiro em Londres, carro devolvido, 10 dias pela capital das capitais dessa vez sozinho, depois de colocar a Isabella no avião de volta para o Brasil quando ela veio com a banda Five, que ela nnao conhecia, mas conseguiu um upgrade por causa deles que estavam vindo tocar no Rock In Rio e viram uma pobre garotinha de 6 anos chorando porque o pai ficaria ainda longe.
Para minha sorte dias lá em Londres, consegui assistir shows incríveis tipo o primeiro do Linkin Park por lá, de graça (e ainda ganhei um single deles).
Mas o mais legal é que teve um mini festival da NME de “novas tendências” onde At The Drive-In era o headliner. E ainda teve My Life with the Thrill Kill Kult e o primeiro show em Londres de uma bandinha desconhecida até então, The Strokes, abrindo pra todo mundo e depois ficando no meio do público, perto de mim, vendo os outros caras tocando sem serem reconhecidos e nem incomodados. Strokes quem?
Isto tudo para dizer que este documentário Omar and Cedric: If This Ever Gets Weird, sobre o casal central do At The Drive-In, que para meu completo choque eram um casal fora da banda, é incrível, cheio de imagens da época que eles explodiram e se tornaram uma das maiores bandas punk de todos os tempos.
Atee eram chamados de punks prog, o que sempre me doeu o coração.
Mas o casal não tinha condições de continuar na ascensão que estavam, onde o ATDI poderia levá-los a patamares que eles nem sonhavam em seu melhores sonhos, o que teria sido incrível e mudado muito a história do “rock”, principalmente por sua visão política e social do mundo.
Eu adoraria ter gostado tanto do The Mars Volta mas a viagem sônica dos caras mudou tanto que pra mim não funcionou mais. Atee tentei em show e tudo mas meu amor continua no At The Drive-In e agora neste filme que só comprova os porquês da admiração, do amor mesmo e do quanto esses moleques são incríveis.
NOTA: