Em homenagem ao show do The Damned amanhã dia 6 em São Paulo, vou falar de um documentário de 2015 que, não sei porque, eu não tinha resenhado por aqui.
The Damned: Don’t You Wish That We Were Dead é o filme perfeito para acabar com a ideia de que toda banda inglesa que fez um relativo sucesso em algum momento de sua carreira, deixou seus membros milionários.
Essa lenda existe não só para bandas inglesas, claro, e ainda é afirmada pelo personagem do Hugh Grant em Um Pequeno Garoto, baseado no livro do Nick Hornby, então a culpa é dele.
Grant é Will, um solteirão chato, milionário e pseudo famoso. Em algum momento de sua vida ele escreveu uma música que foi um super sucesso de Natal e continua sendo. E ele explica que tudo o que alguém precisa é ter uma música de sucesso para não precisar mais nada na vida pelo resto da vida.
Não é o caso aqui.
The Damned foi a primeira banda punk a lançar um single e depois a lançar um disco. Antes dos Pistols e do Clash. Como uma boa banda punk de 1977, os caras zoaram, cheiraram, fumaram, beberam, se divertindo e tocaram tudo o que podiam e deveriam e mais um pouco.
Ninguém ali tinha consciência (ou vontade) de que precisariam ter advogados ou contadores ou mesmo um poupança no banco para terem dinheiro pro resto da vida, já que os caras foram parar no Top of the Pops, o clássico programa da tv inglesa onde tocavam só os artistas que faziam sucesso e que por consequência, depois de lá fariam e fizeram mais sucesso ainda.
E fazer sucesso era vender disco e ganhar dinheiro.
Mas como diz o maravilhoso guitarrista Captain Sensible, os membros do Damned viviam entre ter algum dinheiro e esterem na mais completa pobreza, sem um meio termo, por alguma forma de irresponsabilidade.
Segunda ele próprio em outro momento do filme, ele diz que por estar em uma banda punk, ele vive sua vida toda como se ele tivesse 16 ou 17 anos, que foi quando ele começou a tocar.
E as responsabilidades nunca foram e nunca serão importantes para um moleque de 17 anos de idade.
Pra piorar a situação, existiu sempre uma treta grande entre todos os integrantes do Damned e o baterista Rat Scabies, que em alguns momentos conseguiu ter só ele os direitos às músicas, a ser dono do acervo da banda, e por isso mesmo só ele ganhava dinheiro com discos e shows.
E como ele era bonzinho (ele que disse), ele dava um dinheiriinho para os outros autores e músicos do Damned, mas quem era o dono era ele e só.
Falar que Scabies foi um escroto é irrelevante, já que vemos isso o filme todo e sabemos de todas as histórias escrotas. Falar que Sensible é um gênio tosco da guitarra é chover no molhado, mas aqui a gente vê quando ele resolver deixar o baixo e se dedicar ao seu instrumento preferido. Falar que David Vanian é um dos maiores vocalistas ingleses é redundante e aqui vemos o homem da mecha branca em todo seu “esplendor”, sua criatividade e seu jeitinho todo punk de ser, com um material incrível de entrevistas até então recentes e todo o acervo de imagens da banda, desde o começo, invejável.
Resumindo, The Damned: Don’t You Wish That We Were Dead é imperdível pra você, que como eu, cresceu ouvindo os vinis do Damned e muitas vezes não entendendo exatamente o que eles tocavam, se eram punk, new wave, góticos, engraçadinhos ou tudo isso ao mesmo tempo.
Que bom que vou vê-los de novo ao vivo e que não seja a última vez.
NOTA: