Todo ano no Slamdance tem uma filma na competição que me deixa com várias questões.
Este ano o filme é o espanhol Confessiones Chin Chin.
O filme é uma mistura (meio truqueira) de ficção e documentário onde um grupo de pessoas bem “moderninhas”, em sua maioria LGBT, discutem a vida, o presente e o futuro, tudo comandado pelos atores queer Vicente e Lolo, sempre no bar Cazador em Madri.
Todos os papos são regados de bebidas e cigarros, o que eles fazem questão de deixar claro o tempo inteiro, o que me causou a primeira questão: qual o motivo de falar e mostrar e frisar tanto que todo mundo fuma?
O cinema espanhol meio que gira em torno do maior de todos Pedro Almodóvar.
Ou pelas referências, ou pelo amor descarado ou pelo hate mesmo e pela negação de Almodóvar como o “único” nome do cinema espanhol contemporâneo.
Uma das grandes referências da vida de Almodóvar é a forma como ele começou na Movida Madrileña, na Espanha franquista, onde ele e sua turma de artistas LGBT em sua maioria, se expressavam como podiam pela noite de Madri produzindo música, arte, teatro, cabaré e por aí até chegarem nos primeiros filmes bem punks de Pedro.
Confessiones Chin Chin tenta criar, dar vida, mas meio que à forceps, uma nova turma de artistas em Madri, nos moldes da Movida que décadas atrás apareceram e cresceram de forma bem “orgânica”, sem forçarem nada porque nem tinham como forçar, já que eram o underground do underground.
Este filme força bem a amizade querendo nos enfiar goela abaixo que essa turma do Vicente e do Lelo como sendo as novas caras e cabeças interessantes da noite que estariam prestes a darem o passo largo de virarem artistas conhecidos e relevantes.
E isso estaria por acontecer através deste documentário/ficção.
A minha outra questão é: se der certo é documentário e se der errado é ficção?
Infelizmente eu não engajei nesta história, neste filme e nestes personagens. Achei tudo com muito cara de forçado, de exagerado ensaiadinho e fez com que o mais interessante de tudo faltasse aqui em Confessiones: a alma desse povo tudo.
E por consequência, a alma do próprio filme.