Cada vez mais tem aparecidos documentários incríveis sobre pessoas com Alzheimer.
E por mais incrível que possa parecer, apesar da tristeza da situação, da doença, do estado mental das pessoas envolvidas, eu tenho adorado assistir esses filmes porque não são só filmes tristes, fatalistas.
BANR, por exemplo, que tem estreia mundial no meu preferido Slamdance Festival, é o mais novo exemplo desta minha teoria.
O filme conta a história de um casal com uma história de 40 anos de devoção e intimidade.
Enquanto ela vive com Alzheimer, ele morre de ataque cardíaco em um momento que ele passava uma parte considerável dos seus dias tentando treinar o cérebro dela a lembrar de todos os momentos felizes que ela teve, lembrar da família, dos filhos e o mais triste, dela lembrar dele mesmo, seu marido, já que a memória que ela tem é dele jovem, quando foi à guerra, bonito e cheio de vida.
O homem que vive com ela nesse dia a dia do ocaso da vida não é o marido que de alguma forma ela idealizou em seu cérebro.
Sempre que eu vejo esses documentários eu me lembro de Como Se Fosse A Primeira Vez, o filme do Adam Sandler que a Drew Barrymore tem um problema que só consegue se lembrar das últimas 24 horas e todos os dias ele precisa fazer com que ela saiba que eles são casados e se amam, começando do zero.
Quem cuida da pessoa com Alzheimer precisa fazer exatamente isso, lembrá-la de sua vida passada e presente, das pessoas, das histórias e começar tudo de novo no outro dia.
A estreia na direção da chinesa Erica Xia-hou nos dá uma perspectiva bem particular já que Banr foi filmado em um retiro de idosos, sem atores profissionais, onde tudo ali nos mostrado é a mais dura e crua realidade.
O que me deixou bem feliz assistindo Banr foi ver o quanto a diretora conseguiu “dirigir” as cenas, sendo ousada ao mesmo tempo que bem cuidadosa, imagino eu, para não perder a espontaneidade de seu elenco enquanto ela conseguia entrar em sua intimidade.
Há um tempo eu não via uma estreia tão promissora com um filme tão potente, ousado e ao mesmo tempo competente, sem se perder ciladas modernosas.
NOTA: #Slamdance