Tem filme que a gente assiste que quando termina parece que passou um caminhão por cima, parece que a gente levou uma surra.
Quando comecei assistir este documentário ucraniano Guerra da Porcelana a sensação foi extrema oposta, parecia que eu estava assistindo um filme sobre sei lá, o paraíso, a vida eterna, o céu.
Se você acompanha o blog, vai lembrar que umas semanas atrás eu escrevi sobre um documentário maravilhoso, No Other Land, que se passa na Palestina agora durante essa invasão bárbara por Israel.
O filme todo foi feito com imagens de celulares, câmeras digitais, fotos, tudo que os diretores melhores amigos, um judeu e um muçulmano palestino, conseguiam para registrar o que eles passavam durante a ocupação.
Este Guerra da Porcelana também é um documentário feito em uma zona de guerra, a Ucrânia, também com imagens de celulares, drones, câmeras digitais, tudo gravado o tempo inteiro da forma que 3 artistas conseguia.
Slava Leontyev e Anya Stasenko são um casal, mestres da porcelana, um meio que por causa e apesar de sua delicadeza, resiste as mais altas temperaturas ao mesmo tempo se quebra se não for manuseado com o maior cuidado. E que aqui no filme acabam ganhando vida, coisa mais linda.
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Andrey Stefanov é um fotógrafo que junto com o casal, embarca nessa aventura que lhes cai na cabeça e de onde eles resolveram não fugir.
Ao invés de abandonarem suas casas em uma cidade de fronteira com a Rússia que está prestes a ser invadida, eles resolvem ficar e montam um batalhão de resistência chamado Saigon para protegerem os seus.
O filme por vezes me fez lembrar de filmes de ação típicos de roubo a banco, por exemplo, onde o cabeça da ideia chama pessoas que trabalham sei lá, como jornaleiros mas são mestres em destruir cofres. E assim eles vão montando uma turma de criminosos acima de qualquer suspeita para realizar o roubo do século.
Sabe?
Pois bem, Slava, Anya e Andrey montam esse grupo e defendem com unhas e dentes seus lares, sua terra, do canalha genocida russo.
Inclusive eles dão uma visão da guerra que eu nunca tinha lido por aqui que é a de que Putin é considerado um velho louco, autocrata, que faz o que quer e bota medo não só no povo russo mas também em quem trabalha pra ele e por isso ele manda e desmanda porque ninguém tem coragem de peitá-lo por lá. Como eles dizem, meio o que aconteceu com o terceiro reich na Alemanha, onde ao final da guerra todos foram julgados, mortos e condenados enquanto o cabeça sumiu, quer dizer, morreu.
O lindo de Guerra da Porcelana é ver que sim tem guerra, mas sim tem gente que continua vivendo sob os escombros, se protegendo, mandando as filhas para longe apesar do aperto no coração, da saudade e da aflição.
O tal grupo Saigon tabém parece saído de um filme de guerra onde com um tanque uma meia dúzia de soldados saem pelas cidades ocupadas tentando botar banca de vencedor. Tem um desses no também ucraniano de bruxa que falei outro dia, onde os soldados russos, a meia dúzia deles, se ferram nas mãos da bruza que teve o noivo morto pelos invasores.
Guerra da Porcelana é a guerra que a gente vê pelas novas telas só que pelas lentes de quem lá está vivendo o desespero mas com a esperança que nunca morre, nem na guerra. E quando a gente menos espera, os 3 jogam na nossa cara os bichinhos de porcelana que eles também levam para o meio do “conflito”, dragõezinhos fofos, rosa bebê, que representam tanto num mundo desgraçado mas com esperança como aquele.
NOTA: