O incrível documentário Hollywoodgate é o extremo oposto de Dahomey, o documentário queridinho de 2024.
E é muito, mas muito melhor que o filme de Matt Diop.
Em Dahomey a diretora cria uma empatia sobrenatural com seu público, o que ela adora, para falar das obras de arte roubadas pela França que estavam sendo devolvidas ao seu Benin de origem.
Inclusive essa empatia sobrenatural fina e intelectualizada já vem de seus filmes anteriores, como o também queridinho e aclamado Atlantics, uma comédia romântica com fantasmas, quase um Ghost africano.
Já o diretor de Hollywoodgate Ibrahim Nash’at cria empatia com seu público através da coragem e talvez de sua irresponsabilidade.
O diretor egípcio que mora na Alemanha, assim que ficou sabendo que os EUA estariam abandonando o Afeganistão e os entregando de bandeja ao Taleban, conseguiu uma autorização do (ex) grupo terrorista e agora líder do país para filmar a “reintegração de posse”.
Ibrahim estava lá no dia 1 e ficou por um ano com autorização para filmar o que 2 pessoas fariam: um alto oficial e outro de patente mais baixa.
O alto oficial era o Ministro de Aeronáutica, o cara que entra em Hollywood Gate, um complexo até então ultra secreto utilizado pela CIA durante a guerra.
Ver os oficiais sob o comando do Ministro encontrarem tudo o que os americanos deixaram para trás, de estoques de remédios a aviões de gueerra parcialmente destruídos, é até interessante.
Parece que os talibs, como eles se chamam, eram meninos diabéticos que estavam entrando em uma loja de doces pela primeira na vida com autorização para comerem o que quisessem. Tudo que eless encontravam era maior do que eels já tinham visto em suas vidas. A quantidade de caixas de remédios que lá estavam, diz um, era maior que quantidade de remédios que tinha no hospital mais perto da base.
O diretor Ibrahim acompanha tudo de uma distância segura, obedecendo todos os comandos que recebe dos talibs sem discutir, como ele diz com uma câmera na mão e um tradutor ao lado.
Em um momento o ministro com cara de malvadão barbudo diz que “é melhor que ele saiba o que está fazendo e como vai nos mostrar porque senão ele não sai daqui vivo”.
Me-Do.
E que filme. Eu ficava tenso pelo diretor ao mesmo tempo que já o cinsidero um herói do documentário moderno. Ou um doido, como disse antes, ainda não cheguei a uma conclusão.
Só sei que Hollywoodgate é mais filme que muito documentário premiado em festival com hype nas alturas e que Ibrahim, se continuar nessa pegada, vai virar um Mestre com M maiúsculo ou um Mártir, como eles falam muito no filme também.
NOTA: