Acho que essa é a primeira vez que eu revejo um filme antes de postar a resenha. Não faço, não gosto, acho desnecessário.
Mas quando eu assisti O Quarto ao Lado, o filme hollywoodiano do mestre dos mestres Pedro Almodóvar, eu não me conformei de gostar tão pouco do filme.
Fiquei por alguns meses com isso na cabeça e agora me joguei de cabeça no que os jovens chamam de “revisão”, que teve um resultado bem positivo, para meu espanto.
O filme conta a história de Martha (Tilda Swinton ótima como sempre, mas mesmo assim contida pro Almodóvar), uma jornalista de guerra bem famosa e bem atuantes que cobriu todos os maiores conflitos das últimas décadas.
Ela tem um câncer e cansada doss tratamentos, dos enjôos, das desinterias intermináveis, das dores, dos efeitos colaterais do tratamento, resolve comprar a pílula da eutanásia, aquele que alguém toma para se matar.
Apesar de ser proibida nos EUA, ela compra facilmente, claro. Seu “problema agora é conseguir que alguma amiga a acompanhe no momento que ela vai tomar a pílula, que ela vai se suicidar.
Aí entra Ingrid (Julianne Moore, que se esforçou mas não chegou lá), escritora amiga de Martha que depois de muita conversa, concorda em ir para uma casa linda alugada no meio da floresta para ser o palco do ato final da repórter, enquanto ela espera no quarto ao lado.
O filme é dividido em 2 partes principais, além do epílogo.
A primeira parte é quando Martha tenta convencer Ingrid a ser sua acompanhante na eutanásia. E o plano de Martha é bom o suficiente para que Ingrid nnao seja envolvida em um crime premeditado. O problema é sua resistência à morte, seu medo da morte, que é inclusive o tema do livro mais recente de Ingrid.
Só que de início já sabemos que as 2 chegam a um acordo e daí o filme entra em sua segunda metade, a dos dias na casa de campo linda, fina, moderníssima, mas com algumas cores almodovarianas aqui e ali e acolá, que não combinam nada com a suntuosidade fria da construção.
O textto do filme soou um pouco pretensioso para mim mas isso se resolve nas vidas das 2 personagens, intelectuais, escritoras, que não falam de bolsas caras mas sim de Faulkner e Hemingway.
O soar estranho para mim é que infelizmente eu fiquei as quase 2 horas de O Quarto ao Lado imaginando o filme em espanhol, numa cidadezinha minúscula da Espanha, com 2 amigas de Bilbao, vizinhas de muro. Imaginei o quanto o filme não seria mais melancólico ainda, com toda culpa latina, com o desespero latino porque mesmo tendo uma premissa bem triste, O Quarto ao Lado é quase um filme “solar”, porque a personagem de Julianne está sempre levantando a bola da enferma, jogando o tempo todo conselhos ou elogios ou frases motivaionais na esperança de Ingrid mudar de ideia, voltar para casa e retomar o tratamento da doença.
Algo muito bom no filme são os flash backs, as cenas do passado de Martha, que explicam muito de sua personalidade atual e de como ela chegou onde chegou. Também ajudam no filme as cenas de Ingrid quando encontra seu ex, que também é ex de Martha e quando conversa com seu personal lindo demais que fica triste com a história que ouve e diz que gostaria de dar um abraço de Ingrid mas que pelas novas regras ele não pode encostar em nenhuma pessoa pra quem ele dá aula, nem durante as aulas para ajudar nos exercícios.
Essas piadinhas de Almodóvar nos momentos mais inusitados em deixavam bem feliz.
E o que me deixou bem feliz nessa nova imersão foi que Pedro é sim um dos melhores diretores de todos os tempos, que ele faz o que quer com seu elenco, conduz de forma magistral as construções de suas personagens e aqui nos apresenta um melodrama trágico como há muito eu não vi.
Não posso deixar de falar da trilha de Alberto Iglesias que parecia saída de um filme B americano de 1948, sendo assim uma personagem importante do filme até, já que a pontuação musical é extremamente importante para a história final.
Escolher Tilda para viver Martha foi um tiro certeiro proque ela é uma grande atriz que entrega muito nos extremos que a personagem pede sem cair na caricatura. Em uma sequência crucial onde ela quase perde a linha por estar muito nervosa e exaltada, a cara de espanto de Julianne Moore é impagável, parecendo que ela estava assustada de verdade pela forma como Tilda atuou.
Julianne inclusive, que é uma das minhas atrizes preferidas mas que ultimamente eu vinha achando ela bem mais ou menos, aqui ela tem momentos brilhantes. Não tantos, mas uns poucos e bons. Parece que ela tem estado com preguiça em seus últimos filmes. O aparte vai para ela em Segredos de um Escândalo, que com um sotaquezinho safado deu um nó na minha cabeça de felicidade eterna.
Pedro, acho que o povo já viu agora que você sabe filmar em inglês, espero que parem de te encher sobre fazer filmes em Hollywood porque sim, a Espanha faz falta nos seus filmes.
NOTA: