Black Box Diaries é um documentário maravilhosamente indigesto japonês que está no short list de documentários a serem indicados ao Oscar.
O filme foi escrito, produzido e dirigido pela jornalista japonesa Shiori Ito e conta sua própria história de quando foi estuprada pelo poderoso Noriyuki Yamaguchi, dono de um dos maiores canais de televisão japonês e cheio de amigos poderosos das altas rodas como o então primeiro ministro do Japão Shinzo Abe.
A indigestão que senti assistindo Black Box Diaries vou ver o quanto a vítima, uma notável jornalista é o tempo tempo descreditada por todo tido de autoridade neste caso horroroso dela ter sido estuprada, mesmo com testemunhas, provas físicas, imagens de câmeras de segurança.
O périplo muito bem documentado pelo qual ela precisa trilhar é vergonhoso.
Já seria um absurdo se acontecesse em um país periférico de terceiro mundo, no meio do nada, mas aqui acontece em Tóquio, nem 10 anos atrás.
Outro fato nojento que aprendi com este filme é que no Japão apenas 4% das mulheres estupradas denunciam os crimes sendo que praticamente nenhum homem é condenado por isso por lá ainda hoje.
Black Box Diaries é uma aula de como não existe mimimi de mulher abusada, de vítima dos mais variados tipos de abuso. A força que Shiori teve para fazer o filme, escrever o livro, vasculhar o passado recente e pasmém, ter que fazer uma reconstituição do crime com um boneco de pano no lugar do estuprador.
A maneira com que Shiori é tratada depois de ter feito as acusações de seu estupro por um homem tão poderoso é de chorar de ódio. Ela começa a ser tratada como “puta” o tempo todo, por ter dado uma entrevista com uma blusa com um pequeno decote ao invés de ter usado uma blusa gola rolê. De verdade.
Blacck Box Diaries não deve ficar entre os finalistas do Oscar 2025 mas o filme é uma lição pra homens e mulheres que descreditam vítimas de todo tipo de absurdos nos dias de hoje.
NOTA: