Eu achei que choraria igual uma vaca louca assistindo o documentário da Netflix Daughters, sobre meninas filhas de pais presos nos EUA que vão passar um dia chamado de Baile de Pais e Filhas em uma penitenciária, depois de tempos sem se encontrarem com os pais ou mesmo anos sem verem os progenitores condenados e encarcerados.
Explico o que aconteceu na verdade.
Eu sempre digo e repito aqui, para fazer um bom documentário, tudo o que você precisa é de um bom tema ou de um bom personagem, que o filme se desenrola por si mesmo.
Aqui temos o melhor e mais dilacerante tema possível, crianças que estão separadas de seus pais presos, algumas dessas crianças nunca mais encontraram seus pais desde que foram para a prisão, a ponto de falarem que não se lembram de seus rostos e com medo deles não se lembrarem delas.
A ideia surgiu porque esse baile de Pais e Filhas é algo comum em escolas dos EUA e essas meninas sempre ficavam de fora desse dia importante de criar um envolvimento maior dos pais com a escola e com as crianças.
A equipe da ONG que realiza o dia, prepara por várias semanas tanto os pais quanto as meninas, com muita conversa, muita indicação de como se comportar em uma atividade tão fora do normal. Mas não só isso. Eles também produzem os pais e as filhas.
As meninas passam por um tipo de dia de princesa com cabeleireiros, roupa nova e tudo mais.
Os pais ganham ternos, sapatos, barbeiros, tudo para receberem bem as suas filhas.
E o momento tão esperado, o de quando as meninas entram no ginásio da prisão onde vai acontecer o baile, é quase um banho de água fria.
A forma como escolheram filmar e montar e nos apresentar o encontro é tão frio e distante e sem emoção que tudo vai por água abaixo.
Eu sou o maior manteiga derretida, choro assistindo vídeo de passarinho caindo do ninho e aqui, preparado psicologicamente para soluçar em lágrimas, fiquei até com raiva.
Parece que ao explicarem e treinarem e quase tirarem toda a alma dos prisioneiros para eles não pirarem com essa novidade toda, tiraram do filme também qualquer possibilidade de emoção, de qualquer tipo de cumplicidade que o espectador pudesse criar com essas personagens incríveis e com esse evento tão importante nas vidas de pais e filhas que se encontram, se abraçam, se beijam, conversam sem paredes entre eles, depois de tanto tempo, de tantos anos.
Faço até um paralelo com Dahomey, outro documentário sobre um tema super importante tratado de uma forma bem desleixada, filmado como se fosse feito por uma equipe de fotografia de casamento, não os desmerecendo, mas cada um no seu quadrado, certo?
Uma pena.
NOTA: