Até perto do final do musical Emilia Pérez, eu estava tão fascinado que pensava em rever a bomba musical do Leos Carax, Annette, agora com outros olhos.
Ainda vou fazer isso, de tanto que estava gostando deste absurdo que é o filme do meu preferido Jacques Audiard.
Mas daí o filme caiu num poço sem fundo de correria sem sentido que veio como um balde de água fria cinéfila sem respiro, depois de um filme cheio de pausas e respirações, com 3 atrizes entregando tudo e mais um pouco.
Começo falando de Zoe Saldaña em seu melhor papel da carreira, finalmente mostrando que além de boa atriz ela canta, dança e entrega cenas de bandeja para suas companheiras de tela como a advogada mexicana Rita, contratada por um rei de um cartel mexicano que quer fazer sua transição de gênero.
Rita trabalha pra caramba, viaja o mundo atrás do melhor cirurgião que além de fazer a cirurgia tem que topar manter o segredo de quem é seu paciente. Depois de muito perrengue, quando tudo dá certo, Rita vai receber muito dinheiro e mudar de vida, graças a sua nova cliente Emilia Pérez.
Entra em cena minha mais nova preferida, desde a primeira temporada de Only Murders In The Building, Selena Gomez, que no filme é Jessi Del Monte, esposa do chefão das drogas e das contravenções, mãe de seus 2 filhos. Que a Selena canta todo mundo sabe, mas que ela canta E atua e é uma atriz de primeira, pode ainda ser surpresa para muitos, em um filme tão grande e tão maluco como este.
Por fim entra em cena a atriz trans espanhola Karla Sofia Gascón, que vive Emilia Pérez, a nova bilionária do pedaço, o ex bandido cruel agora vivendo sua verdade e tentando ser também alguém mais sensível, que se importa com as pessoas de verdade, ajudando como pode.
Emilia reencontra sua advogada Rita, a contrata de novo para que ela traga a ex-esposa Jessi e seus 2 filhos para viverem com a “tia Emilia”, até então desconhecida, que ficou com todo o dinheiro do ex bandido e ex marido de Jessi, que nnao faz ideia que está morando com quem está morando. Emilia não liga para sua ex, só quer seus filhos por perto.
Mas quando tudo vai bem, claro, as tretas começam.
Audiard, o diretor do meu preferido Um Profeta, cria um musical clássico, daqueles que parecem que saíram das telas da década de 1940, onde as pessoas caomeçam a cantar e dançar do nada e param e continuam suas ações como se tudo estivesse normal.
E o melhor de tudo é que as músicas, as danças, as coreografias, são sobre os assuntos mais bizarros de todos num filme desses, como a sequência onde um médico explica como funciona uma cirurgia de redesignação sexual toda cantada com uma coreografia ótima.
O que poderia dar leveza a assuntos mais “pesados”, acaba na verdade transformando tudo em alguma coisa tão bizarra pra minha sorte.
Eu não esperava nada menos vindo da mente bem distorcida do francês Audiard, um cara que sempre em seus filmes nos faz acreditar que estea nos entregando uma coisa mas quando a gente menos espera vem um soco no nosso estômago ou um belo tapa na nossa fuça.
O que não foi diferente aqui. Sorte a nossa.
O filme saiu do Festival de Cannes este ano com prêmio para as 3 atrizes e com o prêmio do Júri, coisa rara de acontecer, já que lá eles só dão um prêmio por filme. Concordo com tudo e digo que os prêmios não foram maiores ou melhores por causa do final do filme que dá uma baixada de bola na grandeza cinematográfica toda.
NOTA: