Em meio a miríade de filmes diversos e estranhos e peculiares da Mostra de São Paulo, errei a porta do cinema e caí no filme do Trump. Pra minha sorte, porque é um dos melhores que vi na Mostra, mesmo não estando na mostra.
O Aprendiz não poderia ter título melhor do que o do programa que ele apresentou nos EUA por tantos anos onde ele semanalmente demitia as pessoas que concorriam a uma vaga trabalhando com ele.
Neste filme vemos como o playboy, filha de milionário, Donald foi aprendiz de um dos homens mais podres da política dos EUA, o advogado Roy Cohn, e com ele perdeu todas as virgindades possíveis dos podres poderes.
Tinha ouvido e lido muitos elogios a Sebastian Stan, o ator que não teve medo de viver Trump, indo até contrário aos conselhos de toda sua equipe.
Stan me deu medo em várias cenas porque eu esquecia que era um ator, esquecia que era um filme. O que ele faz fisicamente é de outro mundo. Imagino o cansaço que um ator tão entregue sente no final de um dia de filmagens.
Não sei que outro ator vai tirar o Oscar desse cara que eu já gostava e com esse filme subiu um degrau enorme no meu panteão.
Roy Cohn, um dos maiores canalhas do judiciário americano, uma bicha no armário que denunciava outros gays por picuinha, um cara que usava os truques mais baixos, anti éticos, sujos e ilegais para atingir seus objetivos e os de seus clientes, é vivido por um Jeremy Strong em toda sua glória, o que eu não esperava que fosse diferente. Também acho difícil o Oscar de coadjuvante não parar em suas mãos.
O resto do elenco do filme, inclusive a ótima Maria Bakalova, que faz a Ivana e o muso Martin Donovan, que faz o pai do Trump, são coadjuvantes da broderagem que existiu entre mentor e pupilo, ambos dos infernos, claro.
O filme começa em 1973 com o jovem Trump camelando sob seu pai e tentando explodir no ramo imobiliário. Ele conhece Cohn e descobre que tem que colar no cara que conseguiu eletrocutar o presidente e a primeira dama.
A partir de então foi ladeira abaixo e terminou como estamos vendo hoje em dia.
A delícia do roteiro foi colocar aqui e ali frases que Trump dizia que ressonam em seus atos na política. Ri algumas vezes.
Apesar de tudo e de todos, o grande nome do filme é o diretor Ali Abbasi.
Eu gostaria muito de agradecer quem teve a brilhante ideia de convidá-lo para dirigir esta pérola.
Abbasi é o iraniano-dinamarquês, diretor do meu super preferido Border e do meu outro super preferido Holy Spider, ambos os filmes sobre personagens bizarros, perigosos. Nada melhor do que um filme sobre um ser bizarro e perigoso, da vida real, ser dirigido por um cara já com experiência.
Só um detalhe que me fez amar mais ainda o filme.
Em uma festa que Roy Cohn dá em sua casa, a trilha é bem incidental tranquilinha. De repente começa uma suruba regada a cocaína em bandejas e a trilha vira Suicide e a montagem e direção vão na onde da banda proto punk mais amada por este que vos escreve. É aí que Trump papeia com Andy Warhol sem saber quem é e vê Cohn sendo sodomizado (adoro escrever isso) e fica bem chocado. A cereja do bolo.
NOTA: 1/2