Exatamente 1 ano atrás eu cobria o Fantastic Fest pela quarta vez, remotamente, e quando recebi o email com a lista de filmes que estreariam no Festival fiquei mega animado porque veria finalmente Strange Darling, o novo filme do queridinho do indie horror JT Mollner.
Só que para minha tistreza, o filme só teve sessões presenciais, sem screener para jornalistas nem nada.
O filme foi O sucesso do Festival, super elogiado, assistido por poucos e amado por todos.
Eis que finalmente, ao final do Fantastic Fest 2025, o #alertafilmão Strange Darling aparece em minhas mãos e minhas expectativas foram totalmente superadas.
Strange Darling é um filme dividido em 6 capítulos, exibidos não linearmente, uma escolha muito bem acertada do diretor Mollner que assim tem o espectador na palma de sua mão o tempo todo.
O filme pode ou não ter sido baseado na história real dos últimos dias de muita sanguinolência, violência, crueldade, frieza de “alguém” que pode ou não ter sido serial killer.
A incrível Willa Fitzgerald (de Reacher) é a “Lady”, uma malucona que passa uns dias de sexo, drogas e rocknroll com um malucão conhecido como o “Demônio”, vivido por meu preferido Kyle Gallner (de Dinner In America).
Os dois parecem que foram feitos um para o outro. E quanto mais a gente acompanha o sexo, a intimidade que veio do nada, o rocknroll na versão de Love Hurts do Nazareth na voz de Z Berg, linda, climática e que se torna “dica” para a desgraça. (clique na música e continue lendo)
A inteligência do roteiro do diretor Mollner que nos deixa em sua mão é o que dá o charme absoluto ao filme.
Charme mesmo, porque por mais cruel e desgraçado que seja, pelo tanto que a gente demora para saber quem é quem na história, Mollner não vai deixando pegadas, não tem história de caminho de migalhas de pão, não tem pegadinha, nada disso, o filme é reto e direto. Só que tudo ao contrário, quer dizer, meio que de ponta cabeça, meio que um quebra cabeça montado do jeito que o diretor quer.
Outra surpresa das boas em Strange Darling é a fotografia, uma mistura de cinematografia do cinema exploitation dos anos 1970’s, ousado e cru, com uma releitura genial da moda de luzes com cores primárias dominando algumas cenas.
Mas não como todo mundo faz, com aquela cara de publicidade onde um quarto é azul e o corredor verde. Aqui a luz ou explode ou suaviza, só que não necessariamente ajudando a cena como deveria, o que cria um clima mais estranho ainda no final.
O mais legal de tudo isso de luz é que o diretor de fotografia de Strange Darling é ninguém mais ninguém menos que Giovanni Ribisi, que mostra a que veio e que tem um futuro promissor em sua nova função.
Se eu fosse tentar comparar Strange Darling com algum outro filme, ou com alguma cinematografia eu pensei que o jogo de gato e rato mais cruel e desgraçado do ano poderia ser um filme do Tarantino se dirigido a 4 mãos por David Lynch e um Jon Woo da vida, ou algum esteta da violência oriental, tipo um Takashi Miike.
JT Mollner é um diretor não só inteligente, com uma percepção única para que a forma seja tão surpreendente quanto o conteúdo de seu filme, mas também um diretor com uma visão cinematográfica de dar inveja.
Strange Darling é só seu segundo longa, mas parece que ele vem fazendo isso há décadas pela certeza mostrada em tela, em um filme que com certeza fez valer a pena esse ano de espera por um dos filmes do ano.
NOTA: