Quando eu cubro um Festival, como tô agora cobrindo o Fantastic Fest (pelo quinto ano consecutivo), eu geralmente me informo sobre o filme que vou assistir, já que na grande maioria das vezes são filmes que tem a premiere nesses Festivais.
No meio da correria, pensando em assistir um filme e indo pro screener de outro sem querer, assisti Zero, um filme que se passa em Dakar, que me deixou apaixonado e de boca aberta.
Quando acabou o filme a primeira coisa que fiz foi saber quem era o diretor e BAHM!, é meu preferidíssimo Jean Luc Herbulot, o congolense diretor do meu preferido Saloum, que assisti uns anos atrás neste mesmo Fantastic Fest, que ficou na minha lista de Top 10 Horrores de 2021 e que se você não viu até hoje, nem sei o que dizer.
Saloum é um filme que fez minha ansiedade ir aos céus do desespero e Zero só não me levou à loucura porque o bom humor aqui segurou a onda.
O filme é sobre 2 americanos, em princípio aleatórios, que acordam em Dakar, no Senegal, com bombas am coletes presos a seus corpos, com 1 celular onde recebem mensagens e 10 horas para completarem suas missões.
Um deles é o Zero e o outro é o Um. E como diz a locução inicial, “no início era o zero, mas juntaram o zero e o um e tudo começou”.
O tudo, neste caso, é o caos total que eles vão causar em Dakar em véspera de eleições, em meio a bagunça política que paira pela cidade.
Enquanto acompanhamos as 10 horas mais desesperadoras desses caras e de todo mundo que chega perto deles, vamos percebendo o quanto o cinema de Jean Luc Herbulot é de gente grande, de diretor que sabe o que faz, sabe como faz, sabe resolver problemas, sabe escrever roteiro que pode ser filmado e que cabe em uma duração razoável para virar um filme, claro que com ajuda de uma equipe técnica que não conheço mas não poderia admirar mais.
O filme é um thriller de sobrevivência, onde o Zero e o Um precisam se virar para completar todas as tarefas que recebem ou por mensagem de texto ou por áudio, em uma voz (que parece do Willem Dafoe), além de estarem sendo vigiados por um “olho de deus” moderno, um drone, que não os deixa em paz um momento sequer. Além dos GPS’s de ambos os celulares, claro.
Zero e Um não poderiam ser personagens mais diferentes, que não se completam em nada e são extremos opostos na vida mesmo, mas que aos poucos vamos entendendo o porquê de cada um deles no filme, na história.
Zero, o filme em si, seria um filhote de Tarantino se o Tarantino fosse mais politizado, tivesse mais o que falar sobre o mundo e não só sobre seu universo particular que é cada filme que faz.
E é por aí que eu gosto do estilo de Jean Luc Herbulot, um diretor que não tem medo de mostrar suas referências, que vai do Tarantido ao Sergio Leone, do Hitchcock ao Old Boy, da violência coreana ao velho oeste revisitado.
Ele mostra que nada se cria tudo se copia seu Chacrinha, que não tem medo de ser politicamente incorreto explodindo uma ou outra “coisa” que me deixou bem chocado.
Além de tudo, o diretor Jean Luc Herbulot, que já tinha me chocado com Saloum, agora mostra que ele não é artista de um hit mas sim um cara que está construindo o seu próprio universo fílmico, seu estilo e sua forma de mostrar o mundo onde forma e conteúdo convivem muito bem lado a lado.
NOTA: