Esse é o “documentário” que eu mais queria assistir esse ano, a história meio que ficcionalizada do Kneecap, banda irlandesa que canta em irlandês, que luta pela independência do país e que mesmo assim é meio que detaonada pelos mesmos defensores da independência e da língua materna porque eles além das lutas, falam muito de sexo e de drogas. Muitas drogas e muito sexo.
Kneecap é uma das bandas que mais tenho ouvido esses últimos 2 anos e eu chamo de banda mesmo eles sendo um trio de hip hop irlandês, com 2 vocalistas e 1 dj, que nunca mostra o rosto, sempre usando uma balaclava com as cores da bandeira irlandesa.
Eu já acho que o que eles fazem é um grime punk, com atitude hip hop dos infernos.
Ah, o Kneecap do nome da banda e título do filme quer dizer rótula, o osso do joelho, mas que no submundo irlandês de onde eles surgiram, também quer dizer “atirar no joelho”, pra não matar, sabe, bem gangsta.
A história do filme é ótima. Eu chamo de documentário mas na verdade é uma ficção baseada na história dos caras. Só que ao assistir, eu fiquei meio tentando enxergar como documentário mesmo e foi divertido pensar que o Michael Fassbender era Arlo, o pai de um deles, um revolucionário irlandês que ensina seu filho e o filho do vizinho desde cedinho a falar irlandês, a entender que os ingleses tomaram a Irlanda à força e que eles precisam fazer tudo para terem a terra de volta.
Arlo finge a própria morte para fugir da polícia inglesa, para poder comandar a tal revolução mesmo de longe, onde vira um professor de ioga na praia e que está muito desapontado com a vida de excessos do filho, o que a gente entende no filme pela briga de uns caras que se auto denominam Republicanos Revolucionários Anti Drogas, que acham que a dupla dos Kneecaps são traficantes (e são, só que ninguém sabe) e que suas letras sobre sexo são desnecessárias, um ataque contra sua luta.
Mas antes da banda, eles precisam conseguir transformar seu rap em música e no filme, na ficção, eles encontram um professor de música de escola fundamental que se oferece a produzir em sua garagem e acaba virando o Dj Próvai, o da balaclava, enquanto os melhores amigos Móglaí e Mo, vividos pelos próprios vocalistas da banda Naoise Ó Cairealláin e Liam Óg, escrevem, bebem, se drogam em quantidades estratosféricas e quando explodem, conseguem um público fiel que aos poucos vai crescendo e superando todo mundo que os odeia, os republicanos cuzões, os ingleses, a polícia e quem mais queira entrar no bonde dos haters.
O filme é o máximo, muito bem escrito e eu amei muito os 2 Kneecaps fazendo seus próprios papéis e entregando tudo com muita propriedade. Mas o que me ganhou foi o pé na comédia, ou melhor, no deboche, sendo que a história, contada por um diretor mais “cabeça” com um dinheirinho maior, poderia ter ido por um caminho careta e caricato, o que estragaria tudo.
A dúvida que eu tinha antes do filme foi tirada: sempre pensava que o sucesso do Kneecap fosse por motivos políticos e menos musicais ou artísticos.
Dane-se essa dúvida.
A música do Kneecap é boa demais. E é política demais, como deveria ser mesmo. E uma coisa não anula a outra. Só lembrando que tudo é política e quando um artista “assume” seu discurso, quando diz realmente a que veio, tudo fica mais interessante ainda.
NOTA: 1/2