O Lee Daniels é uma das maiores incógnitas do cinema americano.
Preciosa, seu segundo filme como diretor é uma preciosidade (ops), daqueles de assistir, chorar e querer assistir de novo pra chorar outra vez de tão desgraçada que é a história.
Depois disso foi só porcaria atrás de porcaria. Quer dizer, não porcaria lixo tipo Shyamalan, mas nenhum filme dele chega perto de poder beijar o chão que pisa Preciosa.
Este A Libertação, lançado pela Netflix, eu assisti de teimoso porque me avisaram que eu não iria gostar nada.
Mas sábado a noite em casa, filme de horror, elenco maravilhoso com Glenn Close, Andra Day, Mo’Nique, Aunjanue Ellis-Taylor, não tem como não se jogar.
Me joguei de cabeça e o lago era raso.
A Libertação começa como um drama de família bem pobre, marginal, de mãe abusadora, alcoólica, que bate nos filhos todos adolescentes e quase adultos que pra piorar ainda tem a mãe morando com ela (ex tudo isso que a filha é hoje em dia), pra ajudar com a justiça para a mãe não perder a guarda dos filhos, o que no final das contas não seria de todo ruim.
A família se muda para uma casa nova com a avó crente radical (Glenn Close maravilhosa como sempre, mas poderia ser em um filme melhor pra ter chances de Oscar), que diz que conseguiu sair do caminho “do mal” com a religião e por isso ela tenta levar netos pra igreja, a filha pra igreja para que todos andem pelos trilhos.
E assim vai, história de discussões, de família que passou do nível do disfuncional, de mãe violentíssima, de filhos com medo de respirarem, com marcas pelo corpo, com poucos momentos de harmonia e amor.
Ao mesmo tempo que a mãe Ebony (Andra Day, preferida do diretor Lee Daniels) tem consciência do que sua família precisa, ela é violenta sim, dá tapa na cara de todo mundo, quebra dente de filho, deixa marcas no braço da filha e por aí vai longe.
O que eles aos poucos vão percebendo é que a casa pra onde eles acabaram de se mudar parece ser mal assombrada, cheia de barulhos, de portas batendo, de cheiros ruins, de moscas, tudo piorando aos poucos e esse é o problema do filme, é tudo muito aos poucos.
Tão aos poucos que quando “explode” o horror, eu não aguentava mais a família e torcia pro horror. Tem até mistureba de serviço social preocupado com o bem estar das crianças quando tem demônio na casa, tudo bem complicado para encaixar em um filme já ruim. E não é porque aconteceu na história real que precisa ter no roteiro do filme se não vai funcionar.
Bom, eu achava que esse era o problema do filme até que no meio da desgraceira toda entra uma “profeta” evangélica na história prometendo tirar o mal da casa de Ebony e de sua família e assim temos o filme do crente super herói.
Claro que bem absurdo, principalmente para nós que temos O Exorcista no topo de filmes de tirar-espírito-das-pessoas só pra começar.
São décadas desses filmes, de doutrinação de demônios e espíritos e íncubus e súcubus aprontando pra chegar um filmeco desses e mostrar que é só falar um “levanta e anda” da vida e querer que acreditemos nesse tipo de situação patética.
Sabe exorcismo de culto de crente? Acho que o Lee Daniels fez uma pesquisa no youtube do que acontece por lá, mesmo que a história do filme seja baseada em uma história real.
NOTA: