Lá nos anos 1980, o Antonio Fagundes tinha no teatro uma companhia de repertório onde eles basicamente montavam várias peças ao mesmo tempo e ficavam exibindo-as semanalmente no Teatro Cultura Artística, revezando sempre o tal do repertório.
O que era legal porque dava pra todo mundo assistir todas as peças e se perdia uma era certeza que dali umas semanas ela voltaria ao cartaz.
Era um sucesso, Fagundão melhor que nunca, peças incríveis e minha preferida da época era a montagem de um livro que eu estudei muito na faculdade, o Fragmentos de Um Discurso Amoroso, do Barthes, que assisti várias vezes.
Época boa do teatro pra mim, quando via tudo do Gerald Thomas, do Ornitorrinco, do Zé Celso, do Antunes Filho. Passou.
Tô falando tudo isso porque faz dias que eu assisti o novo do nosso queridinho Yorgos Lanthimos e finalmente cheguei a uma conclusão: o filme parece uma “fita de demonstração” de uma companhia de teatro.
Ruim.
Tipos de Gentileza tem suas lá 2 horas e pouco de duração onde o mesmo elenco vive 3 filmes completamente diferentes com uma pseudo ligação entre eles vinda do título do filme, tipos de gentileza, que são tão relativas que na minha singela opinião nem servem como catalisadores de nada.
Yorgos ficou super amigo da Emma Stone que a poderosa abriu uma produtora e desde então vem produzindo e estrelando os filmes do grego.
Até então vinha dando certo, lembre-se dos Oscars que eles ganharam esse ano.
Diz a lenda marketeira hollywoodiana que Tipos de Gentileza foi filmado logo que eles terminaram de filmar Pobres Criaturas, de onde aproveitaram elenco, equipe e tais.
Na minha opinião, aquela singela, eles deveriam ter continuado naa espera entre um filme e outro, deveriam ter pensado bem, ter revisto tudo porque Tipos de Gentileza não funcionou pra mim.
E olha o elenco: Emma Stone, Jesse Plemons, Willem Dafoe, Margaret Qualley, Hong Chau, Joe Alwyn, Mamoudou Athie, Hunter Schafer, a nata da nova Hollywood com um Mestre dos Mestres pra segurar a onda no meio. E os filmes são escritos pelo Yorgos e seu colaborador constante, o também grego oscarizado Efthimis Filippou.
O Yorgos deve ter falado pra Emma: fofa, tô cheio de roteiros engavetados que escrevi com o Ef e a gente podia fazer alguma coisa. São roteiros que não funcionam ainda, largados lá mas bora, tem uma historia de culto maluco que as pessoas só tomam água deles mesmos pra serem puros, tem história de clone, de milionário doido, acho que pode dar um filmão.
Não rolou. As histórias e seus roteiros estão muito aquém de serem filmes pelo menos razoáveis.
Mesmo com algumas cenas e resoluções (?) geniais, o filme parece feito por um imitador barato do cinema absurdista/surreal de Lanthimos.
Imitador bom, diga-se de passagem, porque o filme é bem dirigido, bem produzidinho, mas tão raso e sem graça que eu tenho certeza que se essa companhia de repertório chegasse no Teatro Cultura Artísitica dos bons tempos, não conseguiriam um lugar na fila de espera para se apresentarem.
NOTA: 1/2