A Coréia do Sul é hoje, folgo em dizer, o país mais invejado da indústria cultural mundial, de onde sai a música pop mais poderosa da indústria, o cinema que vai da mais alta arte ao melhor entretenimento fácil.
The Tenants, Os Inquilinos, fica no meio desses extremos.
O filme tem um roteiro quase perfeito, com uma solução de história incrível que me pegou totalmente de calças curtas.
Numa Seul distópica em um futuro bem próximo, Shin-dong é só mais um funcionário de uma empresa qualquer que, como dizia o Devo, mucho work, minus play, só trabalha, o tempo inteiro, vai pra casa, come, dorme, acorda, trabalha, vai pra casa, come, dorme e começa tudo de novo.
O cara mora num apto mínimo e pra não ser despejado, com o auxílio de uma lei bizarra, ele aluga seu banheiro para um casal recém casado, bem bizarro, ele gigante darkoso, ela bem baixinha, chinesa, morar.
Quando esse casal fica sem dinheiro para pagar sua parte do aluguel, que é 100% bancado pelo governo, eles alugam o teto, o sótão, do apartamento para outra pessoa, o que também pode por causa de outra lei, que além de bancar 120% do aluguel, ainda fornece comida e remédios grátis, porque essas pessoas que moram sobre os tetos dos apartamentos são consideradas a escória da sociedade, gente que falhou em tudo e que precisa de remédios bem fortes para sobreviverem.
Shin vai pirando cada vez mais, primeiro por morar numa cidade super poluída e ele ter problemas respiratórios. Depois por trabalhar o tempo inteiro e não ter dinheiro pra sair de Seul. Depois por ter que alugar o banheiro do próprio apartamento e ter q usar os sanitários públicos. E agora por ter uma inquilina no teto que o ele acha que está roubando suas coisas e o espionando enquanto ele dorme
O que pra mim parecia ser um filme filhote de Parasita, um dramão social pesado, o filme do diretor Yoon Eunkyoung é na verdade um horror desgraçado, calcado no Polanski clássico, com 2 pés em Kafka e com uma realização única de filme indiezão, realizado por quem sabe exatamente o que está fazendo e como vai fazer.
The Tennant é o que se chama no Brasil de B.O., filme de baixo orçamento, roteiro genial realizado em 2 ou 3 locações e que custe meia dúzia de dinheiros.
O problema é que a Coréia do Sul recebe de braços abertos um roteiro “disruptivo” (odeio usar o termo mas aqui serve como uma luva) desses, onde o que parece ser não é, muito pelo contrário e se prepara para um final de soco no estômago.
Aqui quando a gente apresenta roteiro tem que ser o que os streamings procuram. As produtoras já chegam com listinha do que querem e do que conseguiriam vender pros gringos.
Lá não.
Por isso que ele fazem um Parasita da vida, fazem os seus doramas que sim, são vendidos pro mundod todo e fazem um filme como The Tennants.
Óbvio que assiti no @FantasiaFest
NOTA: 1/2