O Dublê é um filme bem bacaninha, quase um pop do início dos anos 2000 com trilha bem boa, que tem de AC/DC a Taylor Swift e tem uma pegada engraçadinha/espertona interessante.
O filme é estrelado pelo eterno queridinho de Hollywood Ryan Gosling, que depois do Ken da Barbie é mais queridinho que nunca como o dublê do título e faz par (não/sim) romântico com Emily Blunt.
E aqui a gente vê um revival de Barbenheimer bem mais modesto mas ainda assim com 2 coadjuvantes indicados ao Oscar tentando arrasar cada vez mais e claro, assim aumentando seus cachês.
Mas O Dublê não é sobre isso e sim um filme importante para o novo lobby de Hollywood que é conseguir que o Oscar premie os dublês.
Sim, se a gente já não aguenta assistir o Oscar provavelmente logo vai ter pelo menos mais uma categoria, a de Melhor Dublê. ao invés de tirarem prêmios os caras vão aumentar a lista já enorme e pra isso investiram milhões em um filme dirigido por David Leitch, um ex dublê que é um dos diretores dos filmes de ação mais legais dos últimos anos como John Wick, Trem Bala, Atômica e DeadPool 2 e escrito por um outro cara especialista no gênero, Drew Pearce, que escreveu o último Missão Impossível.
A cereja do bolo é sim Ryan Gosling, o fofo de Hollywood, o galã que não se faz de galã, o pai de família que a esposa largou a carreira pra ele brilhar e ela cuidar das filhas, o bonitão que leva a mãe nas premiações e que todo mundo diz que não tem ninguém mais legal que ele pra trabalhar.
Claro, até porque nos contratos desse povo deve ter uma cláusula em letras garrafais de não poder falar mal de colegas dos filmes.
Eu gosto do Ryan, acho ele um dos pouquíssimos bonitos de Hollywood que é bom ator também, porque ou é um ou outro, homem e mulher, geralmente, até que por isso existem várias historinhas de regras de beleza e de como fazer sucesso e ficar rico por lá.
Mas eu me irrito com as unanimidades da vida, e isso de todo mundo falar bem dele também me irrita, porque parece que a máquina de Hollywood, quando trabalha muito para nos fazer acreditar nesse tipo de historinha, é porque tem alguma coisa bem podre por trás.
Mas eu queria fazer um paralelo com uma coisa que aconteceu comigo esses dias.
Muitos dos filmes que eu resenho aqui eu recebo por email de relações públicas e marketeiros dos EUA fora de Hollywood. Esses filmes indies legais demais sobre os quais eu escrevo vem com historinhas de muita troca de email, conversa com produtor, diretor pra chegar nos textinhos aqui.
Quando eu posto as resenhas e os vídeos eu mando pros responsáveis dos filmes, sempre lembrando que é em português e eles sempre agradecem e geralmente tiram linhas de textos e colocam no material de divulgação dos filme me cintando e também citando o Já Viu?.
Até que esses últimos dias eu recebi um email de um desses relações públicas dizendo assim: “Fabiano, obrigado pela resenha do nosso filme mas eu te aconselho que da próxima vez que você não gostar de um filme, você não postar sua crítica, principalmente porque um filme indie sendo criticado assim perde público”.
Isso porque eu falei super bem do filme do cara e dei uma nota de de 5 possíveis. E assim eu respondi o email pra ele e recebi de volta um pedido de desculpas porque ele traduziu meu texto pelo google e achou que eu tivesse dado uma nota 4 de 10. Ele se desculpou e me mandou mais filmes pra eu ver.
Resumo: como o Gosling em Hollywood sendo vendido pela máquina como o homem perfeito, como os dublês estão usando a máquina que tem em mãos também em Hollywood, também no mundo indie existe uma pequena máquina possível onde tentam que seus filmes só tenham críticas boas, positivas e ai de alguém que fale mal de um filme, por pior que seja.
Claro que eu entendo que todo mundo que faz filme quer que seu filho/filme seja lançado e assistido por pior que seja, por pior #alertaporcaria que seja.
Mas ai de quem fala mal.
Enfim, a hipocrisia geral.
NOTA: 1/2