Tem um tipo de filme que não consegue me pegar de jeito nenhum, que é o filme onde grandes matérias jornalísticas ou grandes entrevistas jornalísticas, que muitas vezes destronam “reis”, prendem poderosos e coisas do tipo.
Alguns clássicos dos anos 1970 ainda eram mais interessantes anos e anos atrás, nos períodos pré internet, onde tudo demorava mais pra chegar com detalhes ao nosso conhecimento.
Mas em 2024 assistir A Grande Entrevista, recém lançado pela Netflix, sobre a tal da grande entrevista, ou o furo de reportagem que um programa jornalístico da BBC deu ao entrevistar o Príncipe Andrew que contou a sua ligação de “amizade” com o pedófilo condenado, preso e que “se matou” na prisão, Jeffrey Epstein.
Contou não, ele tentou se explicar do escândalo que ele próprio seria também um pedófilo, que ia para os endereços do bilionário americano fazer sexo com meninas menores de idade.
Entrevista essa que fez tanto estrago que o filho preferido da Rainha da Inglaterra foi jogado para baixo dos tapetes reais ingleses para que sua reputação e seus absurdos não colocassem um fim à monarquia.
Bom, essa entrevista foi ao ar em 2019, nós acompanhamos de muito perto o escândalo todo, da prisão à morte do americano, passando pela entrevista, pelo segredo do prícipe dormir com seus bichinhos de pelúcia e do seu sumiço real.
Hoje em dia, parece que isso tudo aconteceu em outra vida e um filme como A Grande Entrevista chega bem atrasado.
Mas diferente de um filme meio que na mesma categoria, O Escândalo da Charlize, este filme inglês com a Mestra Gillian Anderson é até que bem bom.
O clima de thriller, de suspense que o diretor Philip Martin criou para contar essa história é incrível.
Mesmo com um roteiro que não traga nenhuma novidade, nenhuma surpresa, eu fiquei o tempo todo esperando alguma nova bomba aparecer no filme, já que a maneira que ele conta, que ele conduz seu filme está à altura de ótimas séries de suspense político, tipo A Diplomata, que eu tanto amo e que também é estrelada pelo mesmo Rufus Sewell que aqui faz um príncipe todo torto e com zero sex appeal, ou qualquer appeal, o que nos deixa mais convencidos que um homem daquele pagaria o que fosse preciso para se encontrar com alguma mulher.
Apesar de Gillian viver Emily Maitllis, a entrevistadora e apresentadora do programa, jornalista famosa da BBC, quem brilha no filme é a maravilhosa Billie Piper, que vive Sam McAlister, a produtora estranha e meio cafona que consegue marcar a entrevista e que por pouco não é deixada de lado pelo esquema de como funciona uma BBC da vida, um jogo de egos e poder quase macabro.
A coisa mais legal do filme foi descobrir que a entrevista meio que se realizou por acaso, por um email quase não respondido pela produtora Sam que conseguiu um papo com a secretária do Príncipe, Amanda Thirsk, que procurava limpar a barra do chefe com uma matéria na BBC falando de seus feitos com novos empreendedores.
Mas Sam já chegou preparada dizendo que sim, ele poderia falar de seus projetos mas que o assunto do momento era a amizade com Epstein e isso não poderia ficar de fora.
Tanto não ficou que a entrevista foi toda sobre isso.
E foi milimetricamente pensada e roteirizada pela equipe do programa até que na hora H, Emily, a grande jornalista e apresentadora resolve tomar um caminho alternativo, digamos.
A Grande Entrevista tem zero novidade mas tem muita inteligência cinematográfica, criando um thriller que não existiria e que não existiu na vida real, mas que sem ele, a história seria só mais uma de jornalistas tentando o furo de suas carreiras.
NOTA: