Eu nunca na minha vida assisti um filme como O Sabor da Vida e eu tenho (quase) certeza que nem você.
O novo filme do maravilhoso diretor vietnamita Anh Hung Tran é quase que uma obra sinestésica, onde conseguimos sentir o aroma das comidas preparadas na tela através dos nossos olhos.
Não entndeu?
O filme conta a história de Eugénie. Chamá-la de cozinheira de mão cheia seria o óbvio, mas a personagem vivida pela cada vez mais incrível musa Juliette Binoche, é na verdade as mãos, a boca e o coração de Dodin Bouffant, um criador de comidas espetaculares, que hoje em dia chamamos de chef.
Ele claro que também cozinha mas é pelas mãos e pelo talento de Eugénie que Dodin é reverenciado, aclamado e chamado por quem pode pagá-lo para que ele crie menus e melhor ainda, critique menus.
Dodin ama Eugénie, que o ama de volta. Ele quer se casar e ela diz que prefere deixar a porta de seu quarto aberta quando ela achar melhor para que eles se encontrem a noite.
Ela tem medo, ou tem certeza, que o casamento vai levá-los a uma rotina que poderia inclusive terminar com o laço culinário íntimo e único que os une.
Assim ela prefere continuar cozinhando e não participando das refeições, prefere continuar sendo as mãos de Dodin e prefere que ele seja os seus ouvidos, quando trás de volta para a cozinha o que os estimados gourmands acharam de seus pratos sempre surpreendentes.
E assim funciona esse relacionamento sinestésico, ou multi sensorial, já que um é algum tipo de sentido do outro e juntos eles se completam.
Só isso já daria um filme lindo, mas a genialidade do diretor Tran leva O Sabor da Vida a um nível inesperado e quase insuperável em um nível de que o filme poderia ser uma comédia romântica trágica e quase metafísica se isso tudo fosse possível acontecer em uma vida real paralela de um tempo que não volta mais.
Detalhe importante: Benoit Magimel, o grande ator francês que faz o papel do chef Dodin, já foi casado com Binoche e a energia e cumplicidade dos 2 em tela é coisa de outro mundo.
Por muitas cenas vemos os 2 meio que se comunicando com olhares e gestos mínimos, imperceptíveis, como se os 2, nas mãos de um diretor como Tran, sublimassem seus egos e vivessem de verdade o casal de cozinheiros.
NOTA: