Muito a dizer sobre Memória, o filme novo do mexicano (ex) truqueiro Michel Franco, que finalmente acertou.
Pra começar, o filme provavelmente seja o melhor papel da Jessica Chastain na carreira, a personagem que vai levá-la a um outro patamar na carreira, da mulher nada glamurosa que a gente está acostumado a ver em filmes.
Digo o mesmo sobre a carreira de Peter Sarsgaard, finalmente reconhecido como o grande ator que é, inclusive tendo vencido a Copa Volpi no Festival de Veneza por este filme.
Jessica é Sylvia, que está com sua filha numa reunião do AA comemorando seus 13 anos de sobriedade e mesmo assim, ou por isso mesmo, vemos que ela é uma mulher dura, seca, super protetora com a filha.
Ela tem uma irmã com quem convive bem próxima e pra quem pede todo tipo de ajuda o tempo todo e trabalha como cuidadora em uma instituição de pessoas com problemas mentais.
Um dia, em uma festa, um homem (Sarsgaard) começa a seguí-la e ela acha que é um colega de escola que a estuprava quando ela tinha 12 anos de idade e o confronta, ao que descobre que ele tem demência e não se lembra de muita coisa.
Ao contar para a irmã (a ótima Merritt Wever), descobre que ele não era quem a estuprava na escola e a gente vai percebendo que Sylvia tem vários fantasmas em seu passado que não só meio que acabaram com sua vida mas que também envolvem muitas pessoas ao seu redor.
O roteiro de Memória, escrito pelo diretor mexicano Franco, é de uma esperteza e inteligência ímpares. O tema da saúde mental envolve não só os 2 personagens principais, mas também todo mundo ao seeu redor e o quanto essas dificuldades pessoais acabam se tornando dificuldades para quem convive com ambos mas também pioram para os próprios à medida que as histórias vem à tona como podem melhorar quando o relacionamento entre Sylvia e Saul vai tomando outra dimensão.
De novo, Jessica Chastain brilha muito no filme, sem medo e sem pudor ao se mostrar mais frágil que nunca. E Sarsgaard entrega o que a gente tem acostumado ver em seus melhores filmes, só que desta vez parece que a crítica resolveu premiá-lo por uma carreira muito boa.
Já o diretor Michel Franco finalmente faz um filme onde ele não tenta emular nenhum outro diretor em voga como fez em Nova Ordem, por exemplo. Aqui ele mostra a que veio e mesmo não sendo o mais inventivo ou inovador dos cineastas, mostra que é um ótimo roteirista e que se for segurado pela mão, pode nos entregar uns belos filmes daqui pra frente.
NOTA: