O tão amado e balado e hypado American Fiction, que eu gostei bastante, já esclarecendo, é meio que uma versão moderninha de Primavera Para Hitler do Mel Brooks.
Explico minha teoria.
Em Primavera Para Hitler uma dupla de produtores de teatro resolvem dar um golpe de mestre: eles produzem a peça homônima ao título que é uma grande porcaria super séria. Pra isso eles levantam muito dinheiro, gastam quase nada e com seu plano, a peça vai falir em 1 semana e eles se dão bem com a falcatrua.
Só que o plano vai por água abaixo porque a peça é um sucesso estrondoso virando a grande comédia da temporada. E eles precisam se explicar para não irem pra cadeia.
Mais ou menos isso.
Em American Fiction, um escritor e professor de literatura bem, mas bem babaca, vivido pelo ótimo Jeffrey Wright, que está em um bloqueio criativo e não consegue escrever nem lançar nada novo em anos, fica chocado ao descobrir que o livro de literatura negra mais vendido nos EUA é uma grande porcaria que imita as vidas de negros pobres, do gueto, escrito por uma mulher negra, claro, mas muito bem de vida, que como ele mesmo diz, nunca deve ter passado nem perto de um bairro de periferia.
Ele então tem a brilhante ideia de escrever um livro na mesma pegada que o dela, dizendo que o livro foi escrito por um fugitivo da cadeia, com todos os cacoetes de linguagem, de novo, deste pseudo bandido vindo do gueto.
O que era pra ser piada dele com seu agente ao mandar o livro para as grandes editoras e ele não ser publicado, o filme tem uma reviravolta meio que como teve o filme do Mel Brooks.
Mais ou menos. Por isso que me lembrou.
O filme é baseado em um livro, numa adaptação ótima feita pelo diretor de primeira viagem Cord Jefferson que não só escreve bem como também dirige muito bem.
O elenco todo do filme está muito bem. Já esperava isso de Jeffrey Wright mas Erika Alexander e principalmente Sterling K. Brown arrasam muito em seus papeis secundários que acabam sendo muito mais que escadas para Wright.
Toda a crítica social e filosófica do filme acabam servindo muito bem principalmente pelo personagem principal ser um babaca, nível personagem idiota do Woody Allen em seus bons tempos, aquele cara sonso e desgramado que não se importa em ser um grosso e mal educado o tempo todo.
O único problema do filme pra mim é que me pareceu ser um pouco passivo agressivo, com o roteiro se eximindo de culpa de sua própria história, colocando a culpa “em quem servir a carapuça”, o que pra mim é ser um pouco reducionista demais em seu propósito.
Mas só um pouco, porque American Fiction é muito bom, história boa, roteiro bom e Jeffrey Wright chegando finalmente a níveis excelentes para ser indicado a vários prêmios importantes do cinema.
NOTA: 1/2