Quando a gente acha que entendeu toda a história de Monster vem nosso diretor preferido japonês Hirokazu Kore-eda, mestre mestre, e começa a contar a história de novo.
E de novo.
E a gente revê, repensa e entende o quanto o ponto de vista é importante.
Tá, você chato já vai pensar e citar (e xoxar com ) Rashomon, mas vamos lá, está não é a primeira vez que uma história é contada sob diferentes pontos de vista e não será a última.
Aqui temos uma vantagem: a direção delicada do mestre japonês, especialista em dramas familiares, necessário demais para contar a história de uma menino de seus 9, 10 anos de idade que começa a agir de forma muito estranha ao que sua mãe descobre que ele vem sendo “abusado” por um de seus professores e exige não só desculpa, mas reparação.
Não seria spoiler depois de dizer que a história é contada a partir de outros pontos de vista, inclusive a partir do professor. E também do amiguinho mais novo que sofre muito bullying por ser pequeno e mais delicado, digamos assim, pois amigo das meninas da classe.
O que Kore-eda cria a partir do roteiro (premiado em Cannes) do maravilhoso Yuji Sakamoto é quase que um filme de suspense com momentos de horror da vida real que vai se desmoronando a nossa frente e se transformando em alguma coisa que não temos ideia do que seja mas que foi me deixando boquiaberto.
E fiquei assim não só pelas escolhas do roteiro mas principalmente pela forma que Kore-eda deu ao filme, pela direção que ele tomou e pelas decisões muito ousadas que podem passar despercebidas em um pseudo draminha de abuso infantil, de bullying na escola.
Monster não é o tipo de filme que estamos acostumados a ver por aí. Fico com pena de não ter visto antes, me enrolei no cinema e vi agora online, porque este filme teria entrado no topo da minha lista de melhores de 2023.
Que Kore-eda continue filmando, entregando pérolas e nos deixando mais felizes mesmo com uns tapas nas nossas caras que ele nos dá com seus filmes.
NOTA: