Se o diretor Vitor Erice tivesse só realizado seu primeiro filme, O Espírito da Colmeia em 1973, o cinema e nós cinéfilos já deveríamos ajoelhar no milho toda vez que seu nome fosse lembrado.
Mas para nossa sorte ele ainda filma. Esporadicamente, mas filme.
Em 1983 ele lançou o ótimo O Sul; em 1992 lançou o sucesso da Mostra de SP O Sol do Marmelo.
Agora, em mais um ano terminado em 3, ele lança o arrebatador Feche Os Olhos, Cerrar Los Ojos.
O filme é um drama que me fez chorar em alguns momentos e soluçar no final sobre o cinema como sujeito de cura, sobre a memória, sobre quem amamos, sobre quem devemos esquecer e também sobre reinvenção.
Miguel Garay (Manolo Solo) é um diretor de cinema de 1 filme e meio, já que quando rodava sua segunda película, O Rei Triste, ele teve que parar com a produção porque seu astro, ator principal e também seu melhor amigo , Julio Arenas (José Coronado) sumiu.
O ator desapareceu depois de um dia de filmagem indo pra casa e nunca mais foi visto por ninguém, nem família, nem amigos, nem polícia nem nada.
20 anos depois o diretor Garay é convidado para participar de um programa de tv sobre crimes não solucionados, daqueles bem sensacionalistas que todo mundo ama, para falar do sumiço de Julio e da teoria dele ser amante de uma mulher casada e que o marido pode ter sido o responsável por tal crime.
Ir ao programa, gravar a entrevista, fez com que abrissem várias gavetas na mente de Garay que há muito estavam bem trancadas, quando ele vai falar com seu amigo editor Max, responsável pelo filme que restou, falar com Ana (a diva Ana Torrent), filha de Julio, 20 anos depois de não ter contato algum e principalmente, 20 anos sem pensar em seus filmes e em sua vida de diretor.
A reviravolta toda acontece quando Garay recebe um telefonema de uma mulher que é administradora de um asilo dizendo que um dos homens que lá moram, que chegou totalmente sem memória depois de ser recolhido na rua,, conhecido como Gardel, tem em sua posse a foto de uma das personagens do filme que foi mostrado no programa de televisão.
A redescoberta da vida através do cinema é o que Vitor Erice nos joga na cara de uma forma meio dura, sem sutileza nenhuma, pela história desses homens que vivem outras vidas em seus 50 anos de idade mas que para se reconectarem vão precisar voltar décadas na memória, engatilhada por cenas perdidas de um filme nunca terminado.
Em um momento do Feche Os Olhos, o personagem Max, o editor e responsável pela sobrevida do filme perdido, diz que “hoje em dia, no cinema, eu sou um praticante mas já não mais acredito”.
Esses homens de cabelos e barbas brancas, que foram esquecidos pelo cinema dos dias de hoje, que ainda guardam rolos e latas de filme 35mm, que projetam os filmes em salas de cinema que não existem mais, tentam mesmso sem acreditar que seja possível.
Vitor Erice é O cara que eu espero que mesmo que não acredite, continue tentando porque cada vez que ele nos entrega um filme como Feche Os Olhos ou como O Espírito da Colmeia, nossas vidas ganham um novo sentido e o cinema ganha um novo sentido.
NOTA: