Rapito, sim, sem acento mesmo, é o novo filme de um dos maiores italianos, o doidão meu ídolo Marco Bellocchio.
Desta vez ele conta mais uma história bizarra da longa lista de histórias bizarras italianas.
O Papa Pio IX, no século XIX, um dos homens mais poderosos da Itália, com resquícios inquisitivos em seu poder papal, mandava raptarem crianças judias pelo país para que fossem batizadas e criadas dentro da igreja católica para serem padres no futuro.
Rapito, o filme, começa com o dia que um padre poderoso chega a casa da família Mortara no meio da noite dizendo que eles precisam levar o menino Edgardo, o filho de 8 anos de idade que foi batizado secretamente quando ele ainda era um bebê e por isso tinha que ser afastado da família judia.
Os pais desesperados não queriam de maneira nenhuma aceitar tal decisão monocrática e estapafúrdia sem saber como e quando e por quem o bebê teria sido batizado.
O padre disse que isso era um segredo canônico e no outro dia Edgardo é levado por guardas papais.
Bellocchio leva seu filme num paralelo que eu poderia até considerar bizarro onde acompanhamos a educação forçada do judeu Edgardo pela escola católica que se aproveita da inteligência e sagacidade do menino e as agruras de seu pai (o muso de Bellocchio Fausto Russo Alesi) com apoio de sua família para conseguir reaver seu filho pelos meios legais.
Um ponto importante da história é a tirania poderosa do Papa Pio IX que era odiado inclusive pelos católicos e o tempo todo ouvimos que Edgardo só voltaria para casa quando o Papa caísse.
E ele cai. Várias vezes. Fisicamente, não metaforicamente. Uma delas inclusive derrubado pelo próprio Edgardo já crescido, que vai abraçá-lo com olhos esbugalhados de um amor absurdo.
O filme é um típico Bellocchio: bem fotografado, muito bem dirigido, com locações e cenários incríveis mas desta vez faltou um roteiro mais inventivo, faltaram formas ou mesmo uma forma de se contar a história não usual, principalmente com as possibilidades que a história oferece ao diretor.
Mesmo assim, um filme “só bom” do Bellocchio é melhor do que 90% da produção hollywoodiana atual.
Imperdível.
NOTA: