O queridinho dos queridinhos Alexander Payne é um diretor que nunca conquistou meu coração.
Gosto muito de alguns filmes dele como Nebraska e Eleição mas não amo demais, sempre saio de seus filmes achando que faltou pegada, faltou tempero.
Acho o cinema de Alexander Payne totalmente água com açúcar ou até “bunda mole”.
Se fosse comparar com música diria que ele é o Toto ou o E.L.O. do cinema ou alguma banda de rock progressivo, aqueles caras que são super nerds na música, ou aqui no cinema, que conhecem tudo, fazem solos de 20 minutos, mas que no meio da música eu já fico esperando pela virada que nunca vem.
Curiosamente eu amei Os Rejeitados, o novo filme do Payne, estrelado por seu colaborador habitual Paul Giamatti, aqui bem vesgo.
Mais curiosamente ainda, eu gostei de Os Rejeitados e o filme é absolutamente “um filme de Alexander Payne”, aquele filme quase, com um tempero competente mas sem ardência, um bolo de baunilha com cobertura E recheio de chocolate ao leite.
Não tem caramelo salgado, não tem uma crocância, não tem nem uma brincadeira de balinha que explode na boca no recheio.
Mas eu gostei.
O filme é quase um conto de Natal que se passa em uma dessas escolas ridiculamente gigantes e caras americanas, nos anos 1970, onde os rejeitados do título são as pessoas que por lá ficam na época de férias de festas, no caso Natal e ano novo, porque não tem pra onde irem.
Os rejeitados aqui são o professor Paul (Giamatti), odiado e desprezado por absolutamente todo mundo na escola, Mary (a maravilhosa Da’Vine Joy Randolph que leva o Oscar de coadjuvante por esse filme, marque o que escrevi aqui), a responsável pela cafeteria/restaurante da escola e Angus (Dominic Sessa), um aluno largado lá nas festas pela mnae que foi viajar com o novo marido milionário.
O legal do roteiro de David Hemingson foi colocar 3 personagens tão díspares na mesma história sem um matar o outro e conseguindo fazer com que eles passassem as melhores férias de Natal que poderiam viver, dadas as circustâncias.
Aquele papo de os opostos se atraem, que pra mim só existe na física e não na vida real, aqui funciona pelo menos na superfície, em princípio, já que a convivência forçada dos 3 é suportada literalmente até a página 3.
Não é preciso muito para que alguém tenho um surto ou perca a paciência.
Só que são surtos momentâneos, que começam do nada e terminam rapidinho também, muito porque eles sabem que vão ter ainda dias para se suportarem.
A sabedoria do professor só aumenta à medida que ele comprova o que ele sempre soube mas não quis assumir que sim, todo mundo o odeia porque ele é um babaca, pretensioso, acha que sabe tudo mesmo tendo uma vida de quem nada sabe.
Mary (sobre)vive na escola depois de ter perdido o filho recentemente na guerra, trauma que não cicatrizou e que a faz tentar não demonstrar o sofrimento criando uma couraça de poder dentro de seu império que é a cozinha.
Angus é o moleque rico e mala, que sabe um monte e não se dá conta disso. É o personagem que está lá pra que os 2 principais o usem para serem pessoas melhores. O que a gente não espera é que Payne transforma o idiotinha num fofo sofredor.
Tudo isso em um filme que, apesar de todos os pesares Payneanos, eu finalmente encontrei as tão necessárias viradas mais ousadas de personagens ou de história, acenos mesmo que de longe a um cinema mais “violento” na dramaturgia, na “contação de história”, o que me deixou chocado.
Os Rejeitados não vai virar um desses clássicos de Natal porque as pessoas vão sempre olhar para o olho errado, como o faz o aluno quando fala com o professor e não sabe pra qual olho ele deve “mirar”, para prestar atenção, e por isso sempre olha pra um ou outro, mudando o foco durante a conversa.
Aqui é só achar o olho certo e se jogar.
NOTA: 1/2