Tem um momento neste novo filme do mestre italiano comunistão Nanni Moretti que Giovanni, o diretor do filme que está sendo rodado dentro do filme, vivido pelo próprio Moretti, vai a uma reunião na Netflix pedir dinheiro pra que ele consiga terminar seu filme.
O que o diretor de 70 anos de idade, que lançou seu primeiro filme em 1973, na pele de seu alter ego ouve dos executivos é das coisas mais estúpidas, engraçadas e amedrontadoras de todos os tempos.
Eles não param de repetir que a Netflix está em 190 países, ad infinitum, como se isso fosse seu cartão de visitas, o mais desejado de todos.
E os executivos começam a perguntar quando são os pontos críticos, de virada, no filme, tipo “a revelação tem que ser nos primeiros 3 minutos de filme, senão nossa audiência já troca de conteúdo”. Ou quando eles perguntam do momento “what the fuck” e o diretor e sua produtora congelam, como se eles mesmos estivessem no momento WTF de suas vidas.
Se isso não fosse genial o suficiente como a maior crítica a era do conteúdo, Moretti ainda nos entrega nostalgia, genialidade, metáforas leves e pesadíssimas, ao mesmo tempo, em um roteiro onde não só ele brilha como diretor e (sempre) como ator, mas onde todo seu elenco que parece uma família de circo que se ama, se ajuda e que se conhece tão bem que os detalhes são telepáticos.
E Moretti deixa isso tão claro em seu filme que, apesar de estar contando a história do Partido Comunista Italiano, de sua importância no mundo ocidental, ele também está contando uma história de casamento, de família.
A família de casa, a do circo e a da política.
Sempre citando filmes, cenas, personagens, diretores, momentos únicos como quando ele esperra o dia certo do ano para rever um filme com sua filha e ela precisa sair porque tem um encontro.
Ou quando ele pede ajuda a personalidade gigantescas para ajudar em seu roteiro, coisa que Woody Allen fez brilhantemente 50 anos atrás com o Marshall McLuhan numa fila de cinema para explciar sua própria tese do “meio é a mensagem”.
Mais uma vez Nanni Moretti conta para seu espectador a sua vida, ou os últimos 5 anos de sua vida, já que ele mesmo diz que só lança um filme novo a cada 5 anos.
E essa força e generosidade do diretor, mais uma vez, agora em O Sol do Futuro, serve meio que como um convite para nos mostrar que o seu futuro e por consequência também o nosso, de seus fãs, tem ainda uma luz que brilha e que ilumina o caminho que está por vir.
Que #alertafilmão mais maravilhoso possível.
Viva Nanni Moretti!
NOTA: