Trecho do prefácio, por Carlos Gerbase
Entre Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, e João Pessoa, capital da Paraíba, são 3.068 quilômetros em linha reta. Pelas estradas, via BR-116 e BR-101, são mais de 4.000. Quem pega um carro em Madri, Espanha, percorre 4.124 quilômetros para chegar a Moscou, atravessando cinco ou seis países. Não sei qual o melhor trajeto, mas com certeza as estradas são bem melhores. Talvez seja ainda mais importante notar que Porto Alegre está a mais de 1.500 quilômetros do Rio de Janeiro, estado com maior tradição cinematográfica do Brasil, enquanto quase 2.000 separam a cidade maravilhosa de João Pessoa. Não farei mais comparações europeias, pois o tema deste livro é essencialmente brasileiro.
Seus organizadores (e autores) descobriram que esses milhares de quilômetros não impediram que cineastas de duas cidades periféricas (tanto geograficamente, quanto em produção de filmes), no mesmo período histórico, utilizassem as
mesmas estratégias para driblar imensas dificuldades e contar suas histórias com pequenas câmeras da bitola Super-8. Salvo engano, enquanto filmavam, essas duas turmas não faziam a menor ideia da existência uma da outra (isso aconteceu alguns anos depois); contudo, as semelhanças vão muito além do modo de produção. Aqueles jovens algo anárquicos enfrentaram um certo desprezo do pessoal da velha guarda, acostumada com o 16mm e o 35mm, a ponto de, vez por outra, alguém dizer que super-8 não era cinema.