Talvez eu esteja sendo um pouco antecipado, animado, sei lá o que exatamente mas hoje eu marco aqui que Femme, o drama gay violento inglês é o melhor filme de 2023.
Femme é o filme que vai já começa muito bem, rapidinho vem 2 pés no nosso peito, mas vem com um aviso que a gente ignora e depois disso o filme entra em uma espiral de desespero que vou te contar.
Sabe história com “desgraça anunciada”? Péssimo pra ansiosos, tipo eu.
E ao mesmo tempo o tipo de filme que mais gosto de assistir, o que me faz sofrer, que joga minha adrenalina nas alturas pra logo depois ter um sensação de relax indescritível.
E neste caso o depois é depois que termina o filme mesmo porque os diretores Sam H. Freeman e Ng Choon Ping não nos dão folga, com um roteiro a milhão e uma direção no mesmo milhão, tanto que eles acabaram de ser premiados no Fantasia Fest como melhores diretores do festival de 2023.
Outro prêmio absolutamente merecido para o filme foi o de melhor ator para o mais que maravilhoso, que estava esquecido pela tv inglesa, Nathan Stewart-Jarrett, astro da minha série preferida Misfits de 2009.
Aqui ele é Jules, um artista que vive às noites como a drag queen Aphrodite, poderosíssima, afiada, admirada que em uma noite, depois de um show, vai até o mercadinho da esquina da boate comprar cigarro e na saída sofre um ataque homofóbico que a deixa traumatizada em casa pelos próximos dias.
Até que o tempo começa a passar e ela resolve ir a uma sauna gay porque tem certeza já viu por lá o cara que a atacou.
E bingo, Jules encontra pitboy tosco e machãozão Preston (o sempre maravilhoso George MacKay), sai de lá com ele e quando menos esperam, já se veem todo dia e se falam o tempo todo.
A “relação” desses 2 personagens tão díspares quebra todas as regras clássicas do cinema, do thriller, até mesmo do noir onde o homem forte domina a mulher também forte, a Femme aqui do título.
Quando Preston leva Jules pra jantar a primeira vez ele pede pra que ele se vista menos “femme”, menos bicha, diriam por aqui. E lá vai Jules ceder.
Aos poucos Jules vai aparecendo na vida de Preston como seu amigo, cada vez menos Femme e cada vez dominando a situação sem que Preston perceba.
Femme, o filme, é meio que um jogo de roleta russa onde o espectador sabe que um tiro vai ser dado proximamente e que uma bala está no revólver, apesar de 5 vazios.
Mas a bala tá lá, pronta pra ser explodida sujando a parede branca de trás com cérebro bem espalhado.
O poder exercido pelos personagens, o jogo de “ele não pode perceber que quem manda sou eu”, em um roteiro tão bem escrito acaba sendo a cereja mais perfeita no topo do bolo mais bem preparado da temporada.
Jules/Aphrodite é A personagem do ano. Frágil, poderosa, triste, como imaginamos uma drag queen, só que com inteligência e maturidade suficientes pra tomar decisões radicais quando acha que deve.
Já Preston é aquele típico machão fortão que quer parecer pior do que realmente é, o gay enrustido que vive escondido de tudo e de todos, fazendo força para que não percebam que na verdade seu amigo é seu namorado e também faz força pra que seu namorado não perceba que ele não é o fodão que ele faz querer parecer se.
Femme tem a maturidade de um filme feito por um diretor muito experiente e tem a vibe, a fotografia, a trilha, o clima total de um filme feito por 2 diretores que conhecem seu público mais jovem pra quem eles principalmente contam sua história.
A importância de Femme no cinema LGBT desta década vai ser lembrada anos a frente porque quando a gente pensa que “finalmente a comédia romântica chegou pras bichas”, o filmão, o dramão, o filme de gente grande foi meio que deixado de lado.
Mas Femme tá aqui pra reparar esse pequeno detalhe.
NOTA: