Que filme, meu povo, que filme!
O queridinho da Semana da Crítica do Festival de Cannes, o francês Vincent Doit Mourir, Vincente Deve Morrer, é um delírio apocalíptico do diretor Stéphan Castang que me deixou bem feliz.
Vincent é um cara bem normalzão, que trabalha em uma agência de publicidade, ou algum lugar bem tóxico do tipo que um dia, depois de fazer uma piada com um estagiário em uma reunião, leva umas chapuletadas do próprio com um laptop bem bizarro.
Mas chapuletadas de verdade, do tipo que o moleque não ia parar de bater no seu chefe se não o tirassem de cima do fulano.
Mas tudo bem, Vincent vai pra casa com a testa detonada, com uma ferida gigante na bochecha mas vivo.
No outro dia, de volta ao trabalho, depois de um bom dia ao contador da firma, este chega por trás de Vincent e começa a furar o fofo com uma caneta no braço sem parar.
Sim, é verdade o título do filme, tem um povo que acha que o Vincent deve morrer.
E não são só os 2 caras que trabalham com ele. Os filhos pequenos de seus vizinhos de prédio também atacam Vincent, ele começa a tentar entender o que está acontecendo e chega a conclusão que ao trocar olhar com as pessoas, essas partem pra cima dele sem dó nem piedade.
Detalhe: Vincent Deve Morrer não é um horror engraçadinho nem nada, é porradaria sanguinolenta braba.
Vincent fica preocupado com suas conclusões e resolve ir pra casa de férias do seu pai, no meio do nada no interior.
Indo pra lá, ele tem um encontro ao acaso com um cara num posto de estrada que lhe explica o que está acontecendo: ele não é o único, isso está se espalhando, ele precisa entrar em contato com outros que sofrem do mesmo mal e estão trocando informações para que sobrevivam, por exemplo, ele precisa comprar um cachorro que vai rosnar se alguém com más intenções estiver chegando por perto.
E Vincent faz tudo o que lhe indicam.
Mas mesmo assim as coisas não se resolvem. Por momentos as coisas pioram muito.
Como numa luta que ele tem com um fulano em uma fossa séptica que explodiu e os dois caem em uma poça gigante de merda que dá vontade de vomitar.
Castang não só tem uma bela ideia aqui pra um filme que poderia ser de zumbis, ou de apocalipse, mas trazendo pra uma realidade bem pé no chão.
Ninguém aqui é super herói, todo mundo se ferra e o melhor, ninguém sabe o que está acontecendo de verdade e as soluções são bem paleativas.
Mas não as soluções do diretor, que faz muito bem um cinema tenso e violento, sem concessões, sem passar a mão na cabeça de nenhum personagem, nos entregando um final que me surpreendeu bem depois de achar que o filme afundaria numa talvez paródia errada de um blockbuster que não aconteceu.
Sem spoilers.
Todos os louros para um dos meus franceses preferidos, o ótimo Karim Leklou que aqui entrega tudo e me surpreende mesmo eu sendo fã e tendo achado que já tinha visto tudo o que ele poderia entregar.
NOTA: 1/2