Assistindo Stay Online, esse drama de guerra ucraniano que é um dos melhores suspenses dos últimos anos, eu aprendi muitos civis deram seus computadores pessoais para que fossem usados na comunicação por outros civis que ajudavam no dia a dia dos soldados.
Aprendi em Stay Online que a guerra está muito sendo travada via redes sociais, que a propaganda de guerra (no pior sentido possível do termo propaganda), está sendo levada às mais impensáveis consequências, como forma de mostrar destruição e vitória, via lives de Instagram, Facebook, Youtube e por aí vai.
Stay Online, o maravilhoso filme da diretora ucraniana Eva Strelnikova, nos mostra como uma jovem voluntária em Kiev, com um desses computadores doados por um civil em mãos, recebe a missão de instalar aplicativos de segurança e de comunicação militares e entregar a máquina ao seu irmão que está nas linhas de frente da guerra.
Enquanto ela instala tudo, recebe uma mensagem no computador de uma criança, filha do ex-dono do laptop, que viu que seu estaria estaria online, perguntando quando ele iria buscá-lo com a roupa do homem aranha que ele tinha prometido.
A jovem fica intrigada e começa uma pesquisa infinda para saber quem é a criança, onde estão seu pai e sua mãe e principalmente onde está essa criança sem seus pais mas com um celular funcionando.
O que acontece daqui para frente é uma aula de como ter um roteiro absurdamente intrincado, cheio de detalhes de buscas, perseguições, investigações e principalmente cenas tétricas de guerra transmitidas ao vivo, tudo isso e um pouco mais que tornariam um filme desses muito caro e praticamente impossível de ser produzido em um país que estivesse em guerra em si.
Mas a genialidade da diretora Eva foi trazer tudo isso para o formato Screenlife, onde tudo acontece com trocas de mensagens dentro de um computador, tendo no máximo outras duas ou três locações/telas além da principal que é a sala de seu apartamento.
Nada disso teria sido tão efetivo se a montagem do filme não fosse a mais perfeita.
Se bobear demoraram mais para montar Stay Online do que para filmar: sem rebarbas, sem sobras, sem um frame de filme sequer que esteja sobrando ou faltando entregando um trabalho milimetricamente perfeito.
Eu AMO o uso do screenlife ao mesmo tempo que odeio porque pode dar muito certo (como em um episódio perfeito de Modern Family) ou muito errado, como podemos ver numa quantidade ridícula de filmes que tentam se passar só com trocas de mensagens sem um roteiro a altura.
Stay Online é o filme que eu espero assistir em 2023 sobre um evento extremo que esteja acontecendo sob nossos narizes e que nos faz participantes passivos da atrocidade.
Entender a guerra pela televisão e suas censuras ideológicas é uma coisa.
Saber como acontece lá ao vivo, mesmo que via ficção, é outra história.
E uma história infinitamente melhor.
NOTA: