Eu achei que este seria o momente de fazer um post dizendo que eu acredito que o russo Kirill Serebrennikov é o próximo grande diretor do cinema mundial.
Desde O Estudante, o primeiro filme que eu assisti dirigido por Serebrennikov, eu fiquei com meu radar ligado sobre esse diretor que é tão plástico, tão esteta e ao mesmo tempo vai fundo em seus personagens, principalmente cutucando suas almas com espadas afiadas e com alfinetes pontiagudos, tirando nada mais que o melhor “impossível” de seu elenco.
Nesta clássica história de não amor, que já tinha sido contada pelo mestre esteta inglês e meu preferido Ken Russell em Delírios de Amor, o russo Serebrennikov conta sua versão, a versão russa, da jovem brilhante Antonina Miliukova, que conseguiu que sua paixão pelo gênio Tchaikovsky fosse consumada em casamento e que para sua surpresa e desespero, casamento que lhe fez muito mal.
Todos sabem hoje e como disse ontem na resenha sobre Rock Hudson, quem convivia com o maestro Pyotr Tchaikovsky sabia de sua predileção pelos meninos lindos.
Mas Antonina não sabia disso e quando menos esperava, lhe foi oferecida a oportunidade de se casar com seu amor., sem explicações nem detalhes.
A escolha do diretor Serebrennikov de seguir a vida de Antonina depois do casamento, de sua vida de sofrimento, paixão, negação foi, diferentemente do que eu esperava, a escolha mais acertada possível.
A gente enxerga de longe o que Tchaikovsky fazia, sempre a partir do olhar de sua esposa renegada.
Ou melhor, segundo o maestro, da mulher que se casou com ele para que o levassem mais sério como músico e parassem de querer saber com quem ele dormia.
O drama que é A Esposa de Tchaikovsky chega a níveis inimagináveis pelas mãos de um diretor que não poupa nada nem ninguém para contar essa história de quase horror.
Ou melhor, de horror sim, um horror da vida real, onde a mulher apaixonada se torna obcecada pelo seu casamento, não querendo acreditar no que enxerga, no que lhe é mostrado, no que lhe é esfregado na cara.
Antonina é uma das maiores sofredoras da história, uma das grandes batalhadoras pelo amor e ao mesmo tempo uma das mais tolas, já que sua batalha era perdida desde o início mas mesmo assim ela não se deixou levar.
Serebrennikov faz o que sabe fazer de melhor.
O filme é lindo, tem uma direção de atores exemplar e uma direção de fotografia com uma edição de imagens a partir de movimentos de câmera precisos que acabam sendo um dos personagens principais do filme, nos colocando lá dentro das cenas onde nos sentimos participantes da vida russa não tão glamurosa dos dias do mestre Tchaikovsky.
NOTA: