Lembra do filme A Arte do Crime de 1999, com o Pierce Brosnan fazendo um ladrão de arte maravilhoso, inteligente, fino e que todo mundo pensou quando terminou a sessão “que cara genial, que queria ser assim também”.
Pois bem, The Thief Collector é um documentário sobre um caso absurdo que me fez lembrar o tempo todo do personagem do Brosnan, que arma um fuzuê num museu pra roubar uma tela famosa à luz do dia.
Só que aqui, claro, não tem a finesse daquele filme. Mas tem a mesma cara de pau.
E o melhor: uma história que primeiro te deixa de queixo caído e logo depois faz seu cérebro explodir e pra terminar você fica falando (eu pelo menos fiquei) “não pode ser, não pode ser, não pode ser”.
Esse filme me lembrou muito o A Life on the Farm, lembra que falei aqui sobre o vizinho fazendeiro que fazia filminhos com sua câmera VHS com os cadáveres de seus pais e de sua família?
The Thief Collector começa acompanhando 3 caras que compram coisas de casas vazias de famílias que se mudam ou morrem, em uma dessas casas que pra sorte deles, é cheia de tranqueiras, tipo “família vende tudo” mas antes do público entrar.
Lotada.
Mas não lotada nível acumuladores e sim cheia de lembranças de (muitas) viagens, coleções, tudo quase que organizado em uma casa grandinha até.
Eles olham estantes, armários, quadros e mais quadros e mais quadros horrorosos pelas paredes dos corredores, das salas, todos pintados pelo ex dono da casa que achava ser artista plástico.
Ao entrar no quarto do casal, um dos 3 caras acha atrás da porta, pendurado mas protegido, meio que escondido, só à vista se a porta do quarto estivesse fechada, um quadro que parecia interessante e que se mostrou muito mais que isso: era o “Woman-Ochre” do GRANDE Willem de Kooning que em 1985 foi roubado do Museu de Arte da Universidade do Arizona.
Lá em 1985 o quadro valia em torno de 200 mil dólares.
Depois de desaparecido por 30 e tantos anos, o quadro ja valia mais de 160 milhões de dólares.
E os caras que o encontraram quase venderam a uma pessoa que ofereceu 200 mil dólares pelo quadro mas que foi honesto o suficiente e pediu que os atuais donos do quadro procurassem uma instituição para confirmarem que o quadro encontrada era mesmo o quadro perdido.
E era.
O choque que isso causou no mundo das artes dos EUA foi imenso.
E para nossa sorte Allison Otto não só dirigiu este filme como fez uma pesquisa inacreditável para descobrir primeiro quem eram os donos da casa e segundo como e porque eles tinham esse quadro atrás da porta de seu quarto.
Essa é a parte do queixo caído, quando a gente vai descobrindo a história do casal de professores Jerry e Rita Alter que depois de se aposentarem, resolver viver perigosamente.
A parte do cérebro explodindo é o que a gente vai descobrindo à medida que a diretora Allison vai aos poucos nos mostrando em paralelo a reconstituição do De Kooning e as historinhas bem, mas bem interessantes, para não dizer exóticas, do casal Alter.
Claro que ninguém que convivia com o casal, nem seus amigos mais próximos, nem sua família direta, ninguém fazia ideia daquele estilo de vida, como diria, extravagante do casal de professores aposentados.
Claro que eles achavam Jerry e Rita uma pouco diferentes porque sua casa sempre foi a mais estranha, seus jardins eram bem peculiares e um ponto importante: eles faziam viagens internacionais pelo menos 3 vezes ao ano, quando ninguém do seu meio conseguia ir mais que uma vez em uma viagem curta à praia com os filhos.
Só insistindo que eles eram professores aposentados, o que era estranho para esses amigos, já que como aqui, por lá ser professor não dá dinheiro mesmo.
Essas histórias paralelas que a diretora Otto nos mostra é a cereja do bolo rico em camadas e recheios e coberturas que é The Thief Collector, servido em bandeja reluzente, com talheres de prata e porcelana da mais fina inglesa, que poderiam muito bem também estar entre as “coleções” do casal.
NOTA: 1/2