Em 2016, Joe Corré, filho de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren, os criadores do punk, em um protesto queimou 5 milhões de Euros em memorabilia punk.
E causou muito bafafá de fãs lokos falando que o Joe era um irresponsável por queimar camisetas que a mãe criou e muitas que ele próprio moleque ajudou a pintar e costurar e rasgar.
Outras pessoas acharam que certo tava ele, que era dono das coisas e que ele faz o que quer porque é dele e nem confiança.
Outras pessoas ainda perceberam tardiamente, ou só na hora certa, que Joe fez o que fez para alertar a mídia sobre uma luta que ele e sua mãe Vivienne são vozes altas que é o fim do mundo, que é o aquecimento global, que é a extinção global.
E tem gente ainda que disse que Joe estava fazendo isso tudo porque quando seu pai morreu e seu testamento foi dito, lá estava escrito que seu filho Joe “não receberia porra nenhuma de sua herança”. E essa foi a forma que Joe teve para vingar o pai.
Eu lembro que à época eu primeiro pensei que fosse uma irresponsabilidade e depois percebi que o cara tinha sido esperto mesmo por chamar atenção como pôde para sua luta política.
Eu fiquei bem impressionado porque não sabia que esse filme existia e o melhor, que ele mostra não só o furdunço todo e sim foca nas conversas do filho com a agora finada Vivienne Westwood, uma das mulheres mais importantes do século, a mulher que criou a última grande linha filosófico-cultural que foi o punk.
E o legal é ver e ouvir o que ela pensa do punk depois daquele final dos anos 1970, que virou o punk “de boutique”, o quanto Malcolm subverteu o caos e a anarquia colocando por exemplo em cartões de crédito da Mastercard o lema punk, quer dizer, é subverter a subversão.
É como Vivienne explica o porquê deles lá atrás usarem a suástica, por exemplo, jogar na cara da sociedade sua própria hipocrisia.
O melhor do filme é que o diretor Nigel Askew não aparece.
Nem ele, nem sua câmera, nem sua edição “atrapalham” o documentário, atrapalham o contar da história, de mais um truque punk.
Truque porque além de tudo o povo duvida que o material que Joe queimou valia mesmo os 5 milhões de euros que disseram.
Como ele fala muito no filme, a gente sabe o valor de uma casa mas quem sabe o valor de um lar?
E isso mostra o quanto nossos dias estão completamente zuados pelas grandes corporações, o quanto a gente se preocupa mais com os milhares de dinheiros que custam a nossa casa, isso pra quem tem casa, e o quanto o lar é relegado, o quanto a alma, a vida, o viver é explorado, cuspido e escarrado enquanto a gente sobrevive como pode.
Parece hippie mas é punk pra caralho.
NOTA: