Pra quem ainda tem dúvidas eu sou sim “cadelinha” do cinema iraniano.
Não desde sempre.
Anos atrás eu não via nada que viesse daquela parte do mundo, até que eu fui fisgado pelo mestre dos mestres Abbas Kiarostami e desde então minha vida mudou e eu espero que as pessoas percebam o quanto as histórias contadas pelo cinema iraniano (e paquistanês e indiano e sírio e libanês e israelense), que todas aquelas histórias são muito parecidas com as histórias brasileiras, o que muda é o figurino e olhe lá.
Aqui em Ta Farda, uma mulher que vive sozinha com seu filho recém nascido em Teerã, recebe um telefonema e de uma hora pra outra ela precisa tirar tudo de sua casa e deixar seu filho com alguém, só por uma noite.
Mas numa sociedade tão opressora, cheia de regras, de rigidez, principalmente com mulheres, as coisas não são tão fáceis.
Aos poucos a gente vai descobrindo que o telefonema que ela recebe é de seus pais, que avisam que passarão a noite em sua casa.
O que eles não sabem é que ela mora sozinha e tem um filho.
E o desespero toma conta do filme que se em momentos iniciais pareciam uma versão persa de Depois de Horas, aos poucos vai nos mostrando que a realidade iraniana é quase que uma situação impossível para nós ocidentais.
O filme às vezes parece uma comédia surreal no pior sentido possível.
O diretor Ali Asgari criou um micro cosmo que vai do 0 ao 1000 em um corte brusco de edição perfeita.
A espiral não só de desespero mas principalmente causada por situações que saem totalmente do controle da mãe, de uma amiga e de seu filho de colo nos mostra o quanto o nada, o banal pode se transformar num quase horror da vida real.
NOTA: