Eu queria entender porque não existem fã-clubes, estátuas, prédios, pontes, em louvor a esta obra prima da maravilhosa Sarah Polley.
Sarah é uma atriz e roteirista e diretora canadense, das melhores atrizes de sua geração, diga-se de passagem, que de tanto ter feito tanta coisa boa culminou neste filme que me deixou sem chão.
Eu tinha pensado em fazer uma lista das atrizes de Entre Mulheres cheia de emojis de aplausos ao invés de escrever uma resenha mas eu não me aguento.
O filme conta a história das mulheres de uma comunidade religiosa que vive totalmente isolada, bem coisa de bizarrices diretas dos EUA.
Essas mulheres descobrem que vem sendo drogadas e estupradas pelos homens da comunidade há anos, já que sempre aparecem mulheres até então virgens, grávidas.
Agora que elas sabem, elas se reúnem e fazem uma votação do que elas devem fazer: se elas não fazem nada, se elas confrontam os homens da comunidade ou se elas fogem.
Duas dessas opções foram as mais votadas e então 3 famílias (só de mulheres, sempre) são escolhidas para debaterem as opções e chegarem a uma conclusão do que deve ser feito.
Claro que tudo isso sem que os homens saibam o que está acontecendo.
Rooney Mara, Claire Foy, Jessie Buckley, Judith Ivey, Frances McDormand, Sheila McCarthy, Michelle McLeod, Kate Hallett, Liv McNeil, August Winter merecem todos os aplausos possíveis deste universo cinematográfico, da Via Láctea das telas.
Eu assistiria mais 2, 3, 4 horas dessas mulheres falando, discutindo seu presente e seu futuroo, com as marcas de seu passado sendo jogadas nas nossas caras de espectadores desavisados.
Ver uma Rooney Mara loira, pálida, sorrindo e feliz mesmo carregando o filho do estuprador em seu ventre é das maiores atuaçnoes em um ano onde as mulheres roubaram toda a cena de Hollywood.
Finalmente me deixei levar pela inglesa Claire Foy que nunca fez meu coração bater e desta vez, sua raiva, sua força materna, me deixaram de quatro.
E ver minha diva Jessie Buckley mais uma vez mostrar porque ela é a maior da sua geração, e desta vez com sotaque caipira americano, só confirmou meu amor.
E ainda tive algumas descobertas, atrizes espetaculares que eu não conhecia: Judith Ivey e Sheila McCarthy, minha gente, de onde sai tanta atriz maravilhosa que se deixa levar por uma direção perfeita de Polley e nos entrega personagens tão díspares, tão estranhas e ao mesmo tempo tão possíveis.
Entre essas mulheres falando havia um homem, August (Ben Whishaw, ótimo como sempre), o professor que sabe ler e escrever e que ajuda essas mulheres nas votações e que está ao lado delas, de novo, sem que os homens da comunidade saibam de nada.
A tensão e a violência iminente fazem o filme mais especial do que eu imaginei que pudesse ser já que a sutileza do trabalho de direção e roteiro de Sarah Polley joga com nossos sentidos o tempo todo.
Enquanto essas mulheres estão empenhadas e (quase) desesperadas para chegarem a uma conclusão em relação a seu futuro, em embates homéricos sobre que atitude elas devam tomar dali pra frente, o espectador é levado para o mesmo cenário, para o mesmo lugar fechado e escondido onde elas se encontram e discutem.
A falta que um sorriso ou um respiro faz só é notada por quem assiste Entre Mulheres quando a personagem de Rooney Mara sorri para o professor, ou quando a personagem de Claire Foy sorri por causa da história dos cavalos da personagem de Sheila McCarthy.
E nesses parcos sorrisos a gente percebe que o desespero e o medo reinam entre essas mulheres.
Mesmo elas contando o quanto sofrem com os maridos que nnao as deixam fazer nada e para quem elas nunca tiveram coragem de pedir nada, é nos sorrisos que a gente vê o outro lado dessas mulheres, que elas estão vivas por baixo da carcaça que criaram para conseguirem sobreviver.
NOTA: