Se tem um diretor europeu que eu admiro hoje em dia é o austríaco Ulrich Seidl.
O cara não para de filmar, faz um monte de porcaria mas no meio nos presenteia com um monte de filmes maravilhosos.
Rimini, pra nossa sorte, é mais um da segunda categoria.
Devo confessar que a cidade italiana de Rimini, onde se passa o filme, é totalmente familiar pra mim já que uma das minhas melhores amigas morou lá por anos e sempre me contou histórias bem peculiares sobre seu tempo.
Aqui temos mais uma, a história de Richie Bravo (um brilhante Michael Thomas), um cantor pop austríaco que foi muito famoso décadas atrás e hoje sobrevive mal e porcamente em sua casa de Rimini, um balneário decadente, como sua carreira e sua vida, onde hordas de mulheres, não, algumas mulheres já no ocaso de suas vidas, rumam de tempos em tempos para verem as apresentações do ex popstar em restaurantes vazios.
Ulrich Seidl conseguiu criar uma pequena obra prima onde tudo é tão óbvio e tão na nossa cara que por vezes eu achei que estivesse assistindo um filme do Lynch com uns personagens do Cronenberg que se transformariam em monstros.
Tolinho eu.
Rimini de Seidl é praticamente um documentário sobre a decadência, sobre as escolhas erradas que fazemos nas nossas vidas, sobre as consequências dessas escolhas e acima de tudo, sobre não sair do salto alto.
É aquele ditado tosco do “come sardinha em lata e arrota caviar”.
Só que toda a melancolia, toda a tristeza, toda a perda e a decadência são mostradas com uns toques preciosos de humor bem sutil, fazendo da história de Richie Bravo uma delícia.
E que se não fosse por essa finesse do diretor, o filme seria fadado ao trágico, onde os sorrisos de canto de boca dariam lugar à lágrimas infindas.
Rimini é vazia, fria, com uma praia onde ninguém ousa nadar, com pessoas que sobrevivem por lá ao mesmo tempo que não vemos nenhuma dessas sobreviventes pelas ruas do filme.
Richie Bravo é sim um sobrevivente, um alcoólatra falida mas ainda com um pulmão e umas cordas vocais potentes, um amante inconteste, que se deita com suas fãs por um pouco de carinho e mais um tanto de euros que recebe na saída.
Sim, elas fazem esse esforço de ter um encontro íntimo com o ídolo mas ele também se esforça em situações tão absurdas que por si só dariam um filme à parte, mas que aqui, mostram “lo que no se hace por amor”.
No caso de Richie Bravo é o amor próprio que já não existe mais, mas que ele acha que pode reaparecer por um punhado de euros que ele no fim acaba gastando em bebida e nas máquinas caça níqueis.
Pra terminar, Rimini é o último filme do ator Hans-Michael Rehberg, que veio a falecer ano passado.
P.S.: todos os posters lançados do filme são lindos, foi difícil escolher um para colocar aqui.
NOTA: 1/2