A história deste documentário daria um documentário.
David Farrier é um documentarista/jornalista neo zelandês que em 2016 lançou um filme bem icônico.
Tickled é um documentário sobre o fetiche de receber cócegas.
Lembra desse filme, onde ele foi atrás de toda turma das cócegas, de como eles fazem os vídeos, fazem campeonatos e o mais punk de tudo, onde os tais produtores deste tipo de conteúdo abusam muito de seus modelos.
Imagina abusar com cócegas.
Bom, Farrier passou por uma situação bem estranha: perto de onde mora tem uma loja de antiguidades na área de uns bares e restaurantes.
À noite, quando a loja está fechada e os outros estabelecimentos estão abertos, as pessoas costumam para seus carros em espaços em frente a tal loja, como todo mundo faz normalmente a noite em uma situação parecida em qualquer lugar do mundo.
Acontece que a dona da loja “contratou” um “capanga” que fica na porta da loja a noite e prende os carros que na frente param. Sim, prende com aquelas travas “jacaré” que se usam em shopping.
E para liberar o carro ele cobra algo perto de 800 dólares.
Sim! Abuso! Absurdo que fez com que a antena do documentarista começasse a pesquisar essa ação bizarra.
E quando ele menos esperava, descobre que o tal capanga é na verdade uma espécie de amante/namorado/marido/conje da dona do antiquário.
Até aí tudo bem. Mas as coisas não param por aí.
Quanto mais investiga, mais Farrier vai descobrindo o quanto a família dela não aprova tal relação e o quanto a família dele tem medo de aparecer e dizer qualquer coisa a respeito do fulano, o Mister Organ do título do filme, um picareta que já foi preso, tem uma penca de processos nas costas por enganar todo mundo, mentir, inventar histórias, o velho e bom 171 que no final das contas ameaça todo mundo que aparece em seu caminho.
Inclusive o diretor Farrier, que por mais que tente se aproximar do casal para entender o que parecia ser só uma sacanagem na história do estacionamento, vai vendo que o buraco é mais embaixo.
Mister Organ, se tivesse acontecido no Brasil, teria virado um podcast desses com episódios de 3 horas de duração com o jornalista querendo aparecer mais que o objeto de sua pesquisa.
Mister Organ tem um pouco disso, onde o diretor Farrier também aparece mais que o próprio Organ, que a esta altura já se descobriu que ele se vende como Príncipe ou Barão, dependendo da história que conta.
E quando disse que o Organ ia atrás do diretor, foi mesmo, com ameaças feias e o pior, dizendo que tinha a chave da casa de Farrier, que não ia usá-la, mas só pra ele saber que, sei lá, quem sabe.
O filme não é tão bom quanto Tickled mas é bem interessante ver o quanto uma historinha sem vergonha, quando bem fuçada e pesquisada, pode virar quase uma epopéia de horror e desespero.
NOTA: