Se você assistiu a entrega dos prêmios da crítica dos EUA nos últimos dias, o Critics’ Choice Awards, viu a Cate Blanchett vencer o prêmio de melhor atriz por Tar e ouviu ela falando o quanto ela deseja que essas entregas de prêmios para artistas acabem.
Ela dá várias justificativas para essa percepção e fala que só será feliz com esse tipo de evento quando uma Andrea Riseborough for premiada por um filme como To Leslie.
Ficou pensando com meus botões que só isso seria suficiente pra te convencer a assistir essa obra prima do diretor Michael Morris mas eu tenho 2 ou 3 coisas a dizer.
O filme é daqueles indies que eu sinto muita falta de assistir.
Filme pequeno, feito com muito pouca grana (ou quase nenhuma) e com um roteiro tão, mas tão bem escrito que eu me pergunto como que um projeto desses não foi comprado por uma produtora pelo menos média, com grana e com um pouquinho de visão.
To Leslie é um drama desgraçado sobre a moça do título, vivida pela ídola da Cate, a inacreditavelmente maravilhosa Andrea Riseborough dos meus preferidos Mandy e Possessor, só pra citar 22 de seus filmes “mais conhecidos”.
Leslie é uma alcoólatra que pra começar, ganhou 190 mil dólares na loteria anos atrás e torrou tudo na loucura: abandonou o filho pequeno, a mãe, os amigos e família e se jogou.
Muitos anos depois, quando ela mais uma vez é expulsa de um hotel lixo porque não tem dinheiro, Leslie tenta se reconectar com o filho adulto, com a mãe, os amigos e nada funciona porque o que ela quer mesmo é um lugar pra dormir enquanto ela não estiver em alguma espelunca bebendo.
O toque de mestre do roteiro foi terem tomado a decisão mais que acertada de colocar na frente de uma personagem tão estrupiada como essa um sem fim de personagens estrupiados e contar essa história sem apontar o dedo na cara de ninguém, sem culpa, sem ranço. Ou quase, porque o povo cobra muito ela ter largado o filme de 13 anos de idade.
Mas a gente vê o que cada um passa com as decisões da Leslie e como ela própria vive uma vida onde os fantasmas do passado, apesar de estarem em um bolo de fotografias dentro de sua mala cor de rosa, ficam rondando o seu dia a dia o tempo todo, sem dar folga.
Culpa é uma merda.
Tendo dito isso tudo, minha última questão é sobre como um filme totalmente amado e adorado pela crítica, pelos festivais que passa, como um filme desses é ignorado na cara dura.
E como filmes e mais filmes medíocres, mal feitos, horrorosos, são produzidos aos borbotões por exemplo, pelas plataformas de streaming que a gente tanto gasta dinheiro assinando.
To Leslie é o tipo de filme que uma Netflix, uma Prime Video, uma HBO Max deveria agradecer de joelhos o projeto e produzir de olhos fechados.
Mas não.
Quando eu digo que um dia algum jornalista dos bons vai fuçar e achar o esquema de lavagem de dinheiro de filme lixo que gasta milhões para ser produzido, você pode voltar aqui e falar, “olha, demorou mas você estava certo”.
NOTA: