Por onde começar a falar deste absurdo de filme??
Bom, antes de mais nada, A Wounded Fawn é escrito e dirigido pelo diretor de Jakob’s Wife, um dos horrores legais deste ano.
Travis Stevens lá dizia a que vinha e aqui mostra que além de dirigir bem, o cara tem um senso estético bem interessante e as melhores referências possíveis.
A Wounded Fawn é um filme de serial killer com uma vibe total de novo-giallo.
Parece um filme do Peter Strickland: sério, bem tenso com zero senso de humor, aquela fotografia com um pé no giallo e outro nos dias de hoje e com uma trilha ótima que lembra aquela era italiano mas sem os tecladinhos chatos que imitam o Tangerine Dream que ninguém aguenta mais depois de Stranger Things.
Eu adoro um senso de humor, por mais idiota que seja, mas amo esses filmes sem nada de humor, sem nenhuma piada, sérios mesmo, que incomodam mais ainda por esse “pequeno” detalhe.
O filme é sobre um final de semana no campo do novo talvez casal, Meredith e Bruce.
Ela saiu de um relacionamento péssimo, abusivo de anos e ele, solteiro há tempos, acabou de assassinar uma mulher que comprou uma obra de arte em um leilão que ele queria muito.
Sim! Bruce é um doido, a gente sabe disso, mas Meredith vai descobrir logo logo, tadinha.
Por acaso, quando eles chegam na casa de campo de Bruce, que é o máximo, Meredith vê a tal escultura na mesa central da sala e fica muito impressionada porque ela trabalha no museu onde essa obra foi avaliada para o leilão.
Só que Bruce diz que, claro, é uma cópia, mas ele ama muito a escultura que mostra personagens mitológicos matando uma pessoa em uma rodinha na floresta.
Bom, o roteiro de Stevens nos faz apenas esperar o momento que Bruce vai matar Meredith, porque ele já vinha dando sinais de nervosismo desde que a pegou com sua Mercedes antiga.
O que a gente não esperava era que matar Meredith era só o começo do pesadelo surreal que Bruce vai passar no meio da floresta onde está sua casa.
Criaturas estranhas, lindas e poderosas, que poderiam ser As Fúrias, aparecem a partir do sangue de Meredith, cobrando Bruce, dizendo que ele é um FDP e que não é assim que as coisas funcionam no reino… dos mortos? Dos vivos desgraçados? Do surrealismo caipira?
A Wounded Fawn, no final das contas, é sim um delírio surreal de bom gosto, com uma lógica bizarra não só de roteiro mas principalmente uma lógica de construção de personagens e de mundo.
Stevens escreveu o roteiro com seu amigo Nathan Faudree a partir de uma história original baseada em lendas caipiras de vários lugares do mundo misturadas a mitologia grega, o que resultou em um filme surpreendente e o melhor: um filme de serial killer de me deixar impressionado pelo poder das personagens secundárias que roubam o protagonismo desta pérola da Shudder.
Viva as monstras!
NOTA: