Ontem eu escrevi sobre o lixo que é Mindcage, um filme sobre serial killer que é uma cópia sem vergonha de alguma coisa que teria sido um filme do Hannibal Lecter e eu ainda sinto vergonha por ter chegado ao final do filme.
Holy Spider é o que um filme sobre serial killer deve ser.
Baseado em uma história real, o filme conta a história de um doido iraniano que no início dos anos 2000, matou ao menos 16 prostitutas em uma cidade sagrada do Irã com a “desculpa” de estar fazendo uma limpeza.
A polícia machista ultra ortodoxa da cidade, claro, mal investigava o caso porque afinal, quem estava morrendo eram essas mulheres da vida, todas viciadas em ópio e heroína, gente que envergonhava suas famílias e que não fariam falta para ninguém.
A jornalista Rahimi vai para Mashhad investigar de perto a história já famosa por todo o país, onde ela vê que a única forma de descobrir alguma coisa é se disfarçar como prostituta e esperar que o Spider apareça um dia com sua moto e a procure.
O Hitchcock nos ensinou que existem 2 tipos de suspense: o que o público tenta descobrir quem é o “culpado”, ou o assassino, ou o ladrão, e o tipo de filme que o público sabe quem é o tal culpado e só fica torcendo para que ele seja descoberto. Ou no pior dos casos, que continue torcendo por ele.
Neste caso, sabemos desde as primeiras sequências do filme quem é o Holy Spider, a aranha sagrado, o serial killer cruel, frio, ultra violento que no seu dia a dia, tem uma esposa linda, filhos queridos, vive bem mas que ninguém pise em seu calo que ele vai para a rua a noite com uma desculpa esfarrapada qualquer atrás de sua próxima vítima.
O filme, a história real, se passa em uma cidade considerada sagrada do Irã onde a população é extremamente radical, religiosa e fundamentalista, o que faz do filme, e da história real, mais chocante ainda, o que a gente vai vendo como vai se desenvolvendo a história e seus personagens a nossos olhos.
Além de muito bem escrito, com um roteiro de dar inveja a qualquer Tony Kushner da vida em Hollywood, Holy Spider é dirigido à perfeição pelo iraniano Ali Abbasi, de quem eu sou muito fã.
Abbasi é diretor de Border, um dos maiores filmes de 2019, aquele dinamarquês dos “trolls” humanos, com a melhor cena de sexo deste século.
Desde então fiquei esperando qual seria o próximo petardo do diretor e a espera valeu a pena.
Holy Spider é tudo isso que já disse e ainda deu a atriz Zahra Amir Ebrahimi, que faz a jornalista forte e poderosa numa Irã tradicionalista, o prêmio de melhor atriz em Cannes em 2022.
Além dela, Abbasi nos apresenta Mehdi Bajestani, o ator que faz o serial killer Saeed “Spider” Hanaee com tanta perfeição que ao final do filme eu sentia raiva do ator por ser tão bom e nos mostrar o quanto um homem horroroso desses é baseado em uma história real, que na verdade mais parece um personagem de ficção escrito por uma mente doentia.
NOTA: