Porrada 1: Soft & Quiet é o filme com mais “gatilhos desgraçados” que eu assisti nos últimos anos.
Se bobear, neste século.
Porrada 2: o filme é dirigido e escrito pela brasileira Beth de Araújo, que em sua estreia já foi indicada a diretora revelação no Gotham Awards, o maior prêmio do cinema indie dos EUA.
Porrada 3: Beth de Araújo é filha de mãe sino-americana e pai brasileiro, mora em São Francisco e fez um filminho Fofo & Calmo, numa tradução livre do título, onde 6 mulheres se reúnem em uma sala de uma igreja para fazerem uma reuniãozinha onde eu achei que elas fossem fofocar, ou falar do livro do mês ou de suas experiências com os maridos mas quando uma delas abre a embalagem da torta que levou, tem uma suástica n@zi de enfeite.
Soft & Quiet não é nem um nem outro.
É um filme que chega com os 2 pés no nosso peito, antes mesmo da reunião das n@zistinhas e não pára (com acento sim).
A reunião é para elas trocarem experiências sobre como os EUA deveriam ser um país com superioridade ariana e ao contrário está cheio de imigrantes, judeus, negros e lgbtq’s que estão acabando com a tradicional família e com os valores cristãos.
Só que no momento que o padre percebe o que está acontecendo em sua igreja ele expulsa o lixo humano de lá e diz que vai denunciá-las.
Mas elas querem continuar, querem fundar uma revista, abrir uma escola, difundir sua moral e para isso vão continuar a noite bebendo um bom rosé e planejando seu futuro.
Até que elas se deparam com 2 “imigrantes” e o bicho pega.
Quando eu achava que a diretora já nos tinha mostrado do que essa gentinha é feita, as mulheres piram em um nível tão absurdo, ao mesmo tempo que tão pertinente às suas crenças, que vendo o que a gente imagina que elas fariam, sem ter dúvidas de que elas fariam, é ainda mais horroroso do que eu pudesse antever.
A genialidade da diretora (e aqui faço questão de frisar a genialidade mesmo não como um adjetivo frívolo) foi ter filmado Soft & Quiet como um grande plano sequência, como se estivéssemos presenciando tudo aquilo em tempo real, sem cortes, com a câmera entrando não só na intimidade da reunião das n@zis nem em suas soluções extremas, mas também como se frequentássemos suas mentes, os piores recantos de suas mentes podres.
Beth não tem medo de nos mostrar nada, para nossa sorte e nossa nem tanta sorte.
Eu não estava preparado para ver o que vi e eu espero que você que aqui lê este texto, primeiro queira assistir essa porrada.
Mas também espero que você se prepare para o que está por vir.
Soft & Quiet é filme que não perdoa, filme que serve um “propósito”, de mostrar o que a gente não quer ver, de mostrar que nossas vizinhas, que a professoras de nossos filhos, que a vendedora da loja de vinhos, todas educadas, podem estar planejando a nossa morte no minutos que lhes damos as costas.
Soft & Quiet é o horror da vida real nu e cru, transformado em uma obra que dá uma porrada no nosso estômago, depois na nossa cara, de mão aberta e depois manda a gente morder o meio fio e pisa com força e sem dó na nossa cabeça.
NOTA: