Eu fico muito impressionado com o tal do zeitgeist, aquele termo alemão que morde nosso rabo na faculdade que tentam intelectualizar tanto mas que no final das contas é só o sinal dos tempos, o espírito da época.
Costa Brava, Líbano é o irmão gêmeo do espanhol Alcarrás.
Separado no nascimento que se reencontram na corrida pela vaga ao Oscar Internacional, ambos os filmes falam basicamente do mesmo tema: famílias que vivem suas vidas no campo, em sítios, refúgios da especulação, do progresso cruel dos dias de hoje.
Enquanto no interior espanhol a família descobre que suas terras na verdade não são suas e de lá vão ter que sair depois de gerações plantando pêssegos no mesmo terreno, no interior do Líbano a família Badri, que larga a doideira da vida na capital Beirute, para viver na idílica Costa Brava, descobre que o terreno em frente sua casa vai virar um lixão.
Talvez nada seja pior nos dias de hoje que ter um lixão nos arredores de sua casa.
Imagina o que faz com a família que descobre que esse lixão está sendo construído a toque de caixa a poucos metros de distância de sua porta.
A família que vivia uma quase utopia, educando as filhas em casa, plantando e comendo o que colhiam, a vida que todo mundo quer hoje em dia, essa família começa a ruir quando os homens de calças compridas e botas chegam com suas escavadeiras, sua música alta, seu cheiro de cigarro.
A ideia do paraíso devastado é a mesma em ambos os filmes que, não por acaso, são dirigidos por mulheres.
A Costa Brava que a diretora Mounia Akl faz ruir à nossa frente representa a esperança, o amor, a família.
Representa uma possibilidade de futuro que está cada vez mais difícil de ser sonhado já que os lixões, os especuladores, os donos das terras são sempre mais poderosos que o velhinho que planta pêssego como ninguém e como a família que só quer ficar longe do que os vinha matando por dentro mas que agora os mata aos poucos.
De novo.
NOTA: