Nem sei por onde começar essa resenha, se pela minha frustração ao ver este que era o filme mais esperado do ano, se pela outra decepção que foram as cenas “nojentas” do pseudo filme mais nojento dos últimos tempos ou por não entender como um filme deste venceu o Festival de Cannes.
Vou começar pela explicação do título.
O triângulo da tristeza é aquele encontro de linhas de expressão entre as sobrancelhas e a testa, formando as tão famosas “rugas de preocupação”, que podem facilmente ser apagadas pelo botox, subterfúgio que representa o quanto os ricos podem resolver seus problemas com uma picadinha.
Isto posto e já explicando a “vibe” do vencedor da Palma de Ouro de 2022, o novo filme do cínico diretor sueco Ruben Östlund, de The Square, sua primeira Palma de Ouro de Cannes, minha primeira conclusão sobre o filme é: se você é fã radical do espanhol Joan Cornellà e seus desenhos cínicos e infelizes, você vai adorar este filme.
Triângulo da Tristeza conta basicamente a história de um casal de modelos lindos demais, ela mais famosa que ele, ganha mais dinheiro e mesmo assim faz com que ele pague jantares, por exemplo, enquanto ela paga de “nem percebi que sou mais rica e não tenho dinheiro pra pagar esse jantar caríssimo em Paris”.
O casal vai a um cruzeiro de ricos bem ricos, que ela ganha por ser famosa e linda e influenciadora e lá vai o namorado a tira colo, como a alpendre que é na vida dela.
Neste cruzeiro eles conhecem muita gente velha e rica e que fique claro aqui, é assim que o filme mostra esse povo, velho e rico, principalmente ao lado do casal de modelos jovens e lindíssimos.
Östlund, neste cruzeiro, tenta criar um retrato desta sociedade bilionária, onde eles comem folhas de ouro em tudo, onde fazem joguinhos de quem tem o maior comparando suas fortunas, ao mesmo tempo que se vestem mal, tem seus rostos decrépitos e os peitos caídos.
Até que ele consegue ser o diretor considerado “diretorzão dos bons” menos sutil da história do cinema fazendo com que durante o jantar do capitão, o cruzeiro passe por águas turbulentas e todo mundo passa mal. Muito mal.
Mas tipo muito mal mesmo onde Östlund cria a mais longa sequência de cenas nojentas de, sim, velhas e velhos decrépitos e bilionários passando mal em um navio no meio do mar depois de comerem um monte de coisas caríssimas, tendo as consequências mais nojentas possíveis.
Quando o marketing de um filme o vende como “o filme que as pessoas não conseguem assistir”, “o filme mais radical do ano” ou algo parecido, se for um filme que custou 10 reais pra ser feito, o filme é bacana, porque os 10 reais foram usados pra criar essa radicalização nojenta e não importa a história, porque geralmente nem tem.
Mas quando é um filme que se acredita uma crítica ou uma sátira a essa sociedade rica, ver um povo vomitando e defecando não tem nada de nojento, muito pelo contrário, é sem graça.
Viu um, viu todos.
Mas Östlund repete ad infinitum as cenas nojentas causando tédio, no meu caso.
Então, se você ler por aí que o povo saiu do cinema por causa das cenas nojentas, saiba que provavelmente foi não porque elas eram nojentas mas sim porque eram sem graça. Bem sem graça. Se quer ser malucão, radicalzão, que seja de vez, o que ele não foi mesmo.
Pra fechar o filme com chave de, sei lá, cocô ou vômito, pra não sair do tema, o povo do navio vai parar em uma ilha deserta na último terço do filme, vivendo de destroços do navio, causados por uma das situações mais idiotas possíveis, num dos finais mais rasos de filmes ruins das últimas décadas.
A pretensão do diretor Ruben Östlund só não é mais estúpida que o roteiro do filme, com certeza realizado porque o diretor tinha vencido a Palma e conseguiu fazer o que ele quis depois.
E o pior, a porcaria que ele quis fazer e fez, foi truqueira o suficiente para que Cannes o premiasse novamente por um filme que conta a mesma história que Östlund sempre conta, sobre a cara de pau das pessoas e de como elas se dão bem, teoria que começou lá em Force Majeure, e que chega ao ápice nesta bobagem que é Triângulo da Tristeza onde o próprio diretor faz na vida real o papel do artista de seu filme anterior vende pro povo da arte que um quadrado no chão era genial.
E nunca foi.
(Se você quiser assistir, o filme estará em cartaz na Mostra de Cinema de São Paulo)
NOTA: 1/2