Romain Gavras, o diretor de Athena, acaba de se juntar ao panteão dos grandes diretores de cinema que iniciam um filme com um plano sequência poderoso.
Robert Altman o recebe com prazer, tenho certeza.
A guerra civil que a gente vê nos primeiro 10 minutos do filme francês é de dar medo, culminando com o mais potente plano de drone do ano. Ou dos últimos anos.
Athena é uma tragédia francesa moderna.
Atenas (a cidade) é grega, a tragédia é grega, mas Gavras, filho de um dos maiores diretores gregos, Costa-Gavras, transportou sua origem para seu país natal e ressignificou tudo.
Romain já mostrava em vários dos clipes que dirigiu uma Paris violentíssima, em pé de guerra, sendo que o da M.I.A., por exemplo, foi super censurado na tv francesa.
Athena do título é um conjunto residencial na periferia de Dijon onde mora a família de um menino de 12 anos de idade que foi assassinado pela polícia.
O que seria uma ocorrência corriqueira para a polícia fascista não só na França mas por aqui também, Acaba cirando uma guerra civil já que os irmãos do menino resolvem se vingar da polícia com suas próprias mãos.
Quer dizer, enquanto Abdel, que acabou de voltar da guerra, tenta negociar com a polícia, seu irmão Karim, com a ajuda de seus amigos e vizinhos, muitos e muitos deles, começa a tal batalha civil, incendiando o distrito policial enquanto a coletiva de imprensa acontece, roubando armas, munições, uniformes e mais o que encontram pela frente.
Tudo isso porque a polícia, claro, não assume que foram eles que mataram seu irmão.
Como disse no início, o plano sequência de 10 minutos que começa o filme de Gavras é das coisas mais poderosas dos últimos anos.
A gente vive a batalha de dentro dela, sofrendo com a ansiedade do comando do jovem Karim que parece que nasceu pra isso, ao lado de seus amigos que neste momento viram sua família, a família Athena.
Trilha maravilhosa, clássica, operística, sóbria do filme vai nos levando a um caminho sonoro que não esperávamos trilhar pelas imagens de violência tão crua que nossos olhos enxergam.
Quem esperava um trilha de hip hop francês como no clássico O Ódio, como eu mesmo, vai se preparando porque aqui a parada é de dissociação. Nada ajuda nada, tudo está a favor do incômodo.
Mas nem tudo é perfeito.
Romain insiste nos planos sequência que, apesar de serem muito bem construídos, com o que eu imagino que tenha sido uma balé absurdamente bem ensaiado, a falta de close, de corte, acaba cansando.
A gente sabe que ao final do próximo plano sequência vem mais um e no cinema de Romain Gavras, o mais um, neste caso, por vezes acaba sendo só mais um mesmo.
Por Athena a Netflix paga todos os pecados cometidos no ano com o bando de filme ruim que lançou. Se for sempre assim, que venham os melhores apagar o gosto amargo na boca deixado pelas porcarias lançadas e produzidas pela plataforma de streaming.
NOTA: