A tradução literal do título desta comédia bizarra seria Buzine para Jesus. Salve sua Alma.
Esse é o cartaz que Trinite segura na beira de uma avenida movimentada onde fica o templo onde ela é a primeira dama e seu marido Lee-Curtis é o pastor.
Ah, ele é o pastor bonitão, sarado, popstar que caiu em desgraça depois de várias acusações de abuso sexual, das quais ele está tentando se livrar com acordos financeiros.
E Trinite está lá segurando o cartaz enquanto Lee-Curtis está pregando ao vento, no meio de dias e dias ensolarados, chamando as pessoas para a reabertura do tal templo que já foi sucesso de público.
E sucesso de público significa o que aos pastores evangélicos? Muito, mas muito dinheiro.
E no caso de Trinite e Lee-Curtis significou muita roupa de grife, muito terno Prada, muito chapéu, muito sapato exclusivo e uma mansão de dar inveja.
Honk for Jesus. Save Your Soul. conta a história de como esse casal tenta se reerguer do escândalo, que só vai piorando a medida que o espectador vai descobrindo toda a verdade. Mas o filme mostra mesmo a filhadaputagem e a cara de pau desses pastores crentes que pregam uma coisa e fazem outra, do tipo faça o que eu digo mas não faça o que eu faço.
Ou melhor, nem saiba o que eu faço que vai ser melhor pra todo mundo.
O filme da diretora Adamma Ebo, que é uma recriação do seu curta homônimo de 2018 é daqueles que me fizeram ter mais bode de crente do que eu já tenho normalmente.
O roteiro é incrível, os diálogos e a construção dos personagens principais, do casal de pastores, é de se tirar o chapéu.
Mas a escolha do elenco, ter o dinheiro para filmar com uma dupla que Adamma conseguiu, é a cereja do bolo.
Sterling K. Brown como o pastor decadente Lee-Curtis está impecável. Narcisista ao máximo, o pastor tem certeza que ele pode tudo tirando sua camisa e mostrando seus músculos.
Inclusive pode dar em cima de um jovem da equipe de filmagem esquecendo que ainda está com o microfone ligado, piada clássica.
Sim, Honk for Jesus. Save Your Soul. é filmado em uma mistura de ficção e documentário, já que os pastores contratam uma equipe de documentaristas para captarem a reerguida da igreja, o renascimento das cinzas, enquanto vemos também o além desse documentário.
Agora quem rouba o filme é a magnífica Regina Hall que constrói um Trinite como há muito não via num filme de Hollywood.
A pastora traída, que sofre com isso mas não larga o marido, já que eles são ridiculamente crentes, como eles deixam claro o filme inteiro, dá todas as oportunidades a Regina brilhar.
A gente sabe o que Trinite está passando o tempo inteiro, que pode ir de uma risada a uma sorriso amarelo de desespero em meio segundo.
Se Regina Hall não for lembrada nas premiações de final de ano por esse papel, eu não sei de mais nada.
Única crítica: faltou um pouco mais de “ousadia” na crítica ao pastor em si, faltou contar mais sobre o pouco que a gente vê na tela.
NOTA: