Fiquei chocado comigo mesmo essa semana ao descobrir que eu nunca tinha escrito nada sobre Nico, 1988, uma pérola cinematográfica, que conta a história dos últimos meses da vida da musa de Andy Warhol.
Nico foi o codinome da alemã Christa Päffgen, atriz, modelo, cantora que emprestou sua luz, e claro, seus dons artísticos ao Velvet Underground.
Infelizmente Nico era uma junkie, viciada em heroína, o que sempre atrapalhou e muito sua trajetória de vida, não só artística.
Ela, por exemplo, não pôde criar Ari, o filho que teve com o ator francês Alain Delon que sempre negou a paternidade mas que seus pais criaram a criança.
O 1988 do título foi o ano da morte de Nico e o filme da diretora italiana Susanna Nicchiarelli conta as histórias de uma última turnê que Nico pela Europa.
Os shows, como vemos no filme, eram sempre em lugares pequenos, com muito pouca audiência (os poucos sortudos) e que por muitas vezes o cachê era em troca de acomodação, comida e heroína.
Nico é vivida pela grande atriz dinamarquesa Trine Dyrholm que some no papel do anjo da morte e que por mais paradoxal que pareça, vai nos mostrando um sopro de vida voltar ao corpo da quase moribunda musa.
Nos créditos finais do filme a diretora Susanna deixa claro que todas as histórias narradas pelo roteiro são reais, algumas com apenas uns detalhes diferentes por razões cinematográficas, mas que tudo o que vemos no filme aconteceu de verdade.
E Nico, 1988, parece mesmo ser quase um documentário já que é um filme “pé na estrada”, onde acompanhamos essa trupe de artistas viajando pela Europa em um carro pequeno, dividindo hoteizinhos não muito confiáveis, por muitas vezes tendo que se apresentar sem dizer quem era a cantora do show já que na época o mundo ainda estava dividido pelo muro de Berlim e do lado de lá uma cantora junkie não era muito bem vindo em países que viviam sob a cortina de ferro.
De novo, eu não consigo entender como ainda não tinha resenhado essa pequena obra prima mas nunca é tarde para elogiar muito a genialidade de Trine Dyrholm, que sumiu sob a personagem da diva junkie e também para elogiar todas as decisões que a diretora Susanna tomou para contar essa história tão importante mas tão triste que por vezes parecia que estamos assistindo um filme de horror.
Se você tem medo de assistir biografias filmadas de astros do rock, tenha medo de verdade desta, mas pelos motivos certos.
NOTA: