É oficial: o doidão que tanto amamos Peter Strickland atingiu nível de criação de universo peculiar nunca dantes imaginado.
Se você foi esperto o suficiente e assistiu Other, Like Me no In-Edit Festival como indiquei aqui, vai ver que Flux Gourmet foi muito inspirado na obra do Coum Transmissions, do Throbbing Gristle e muito na Cosey Fanny Tutti, criadora dessa parada toda performático-musical.
Flux Gourmet conta a história de uma banda dessas que é na verdade um coletivo culinário, onde suas criações sonoras nascem em performances onde os microfones e os pedais de efeito estão conectados a frutas, legumes, verduras e liquidificadores e batedeiras.
Esse coletivo/banda que não consegue chegar a uma conclusão sobre seu nome, está fazendo uma residência artística em uma mansão, bancada por um grupo de patronos da arte, encabeçados pela intelectual-radical Jan (a gigante Gwendoline Christie), que só quer o sucesso da banda mesmo que pra isso ela tenha que tomar atitudes não tão ortodoxas.
Mas Elle di Elle, a cabeça criadora do coletivo, não vai deixar que os 2 outros membros da banda, que também são ou foram seus amantes, Billy e Lamina Propria, ouçam demais a patrona ao invés de ouvirem a artista.
Tudo isso sempre sob o olhar próximo do documentarista Stones, um grego com problemas de digestão, que não sai do banheiro por causa de gases, sendo tratado por Dr Glock, um médico que gosta mais de citar os gregos e beber seu vinho do que na verdade curar o gordinho.
Lembra de In Fabric, O Vestido Assassino, o filme anterior do diretor Strickland, sobre um vestido criado por bruxas que matava umas pessoas?
Lembra que doideira?
Flux Gourmet faz aquele parecer um filme de sessão da tarde.
Strickland continua calcando suas histórias e seu cinema na filosofia de horror italiana oitentista, só que cada vez levando o Giallo a níveis mais aprofundados na caracterização de seus personagens e, para nossa sorte, desta vez fugindo da estética da moda onde as luzes primárias não saem mais nem dos comerciais de televisão.
Em Flux Gourmet as bruxas ainda existem mas elas são alquimistas musico/gastronômicas.
O horror ainda é explícito, só que não como esperamos, nada óbvio.
O drama, a inveja, o poder, o sexo, a música sexual, a música gástrica, a música física, tomam o centro da história e nos fazem embarcar numa jornada única, bem desagradável, por vezes, e não tão digestível.
NOTA: