“Por que os seres humanos resolvem coisas difíceis com violência?”
Uma frase tão pacifista como essa era uma das preferidas do Throbbing Gristle, uma das bandas mais radicais e performáticas e barulhentas e violentas de todos os tempos.
Os TG mostravam ao vivo e em seus discos que a violência não era o fim mas na minha opinião, poderiam ser um tipo de catarse para um suposto “final feliz”, obviamente entre aspas, já que a felicidade é algo absolutamente relativo.
E no caso do TG, de Genesis P-Orridge, Cosey Fanni Tutti, Peter Christopherson, e Chris Carter, as aspas sempre eram gigantescas.
A começar pelo nome da banda, Throbbing Gristle, que é uma gíria tosca da cidadezinha tosca de onde eles vieram, Kingston upon Hull, que quer dizer, “ereção gigantesca”.
O engraçado é falar sobre os TG e usar termos como radicais e violentos em 2022, onde um jornalista é morto, dilacerado e tem seu corpo queimado e enterrado no meio da floresta brasileira por estar fazendo a coisa certa.
Mas os Throbbing Gristle foram isso sim lá em 1975, quando a disco music e o rock progressivo dominavam o mundo.
Eles fizeram primeiro o que os punks viriam a fazer ano depois, só que mais que os punks ainda, eles inventaram o industrial.
E pra mim assistir este documentário ao mesmo tempo que eu estou assistindo a Série Pistol, sobre não o nascimento mas a invenção dos Sex Pistols, toda bonitinha e bem dirigida pelo Danny Boyle, mostra o quanto a relevância artística de umas pessoas é infinitamente maior que de outras.
Enquanto Malcolm Maclaren e sua esposa Vivienne Westwood inventaram uma banda para venderem roupa chamando atenção como podia e não podiam através de um marketing gigantesco, mais ao norte da Inglaterra os TG jogavam na cara de quem quer que eles conseguissem atingir que a humanidade não tinha jeito, que só pelo fato de querer resolver tudo com violência já dizia que o “no future” dos punks de butique Sex Pistols, já era passado.
Other, Like Me: The Oral History of COUM Transmissions and Throbbing Gristle dialoga bem com o documentário que resenhei ontem sobre a Lydia Lunch, outra artista radical que levou o punk a extremos que poucos ousaram se aventurar.
A história do Throbbing Gristle é obrigatória para você que se interessa por arte no estado mais puro e mais político e mais extremo.
Décadas atrás eu cheguei no Throbbing Gristle através do Psychic TV, a banda de Genesis Breyer P-Orridge, depois do final dos TG. A partir desta banda, li uma bíblia que ele escreveu, “Thee Psychick Bible: Thee Apocryphal Scriptures Ov Genesis Breyer P-Orridge and Thee Third Mind Ov Thee Temple Ov Psychick Youth”, um dos livros que mudou minha cabecinha de uma forma tão absoluta que parecia que a partir de então, tudo fazia um sentido diferente, da mesma forma que o livro do KLF, “Manual: How to Have a Number 1 the Easy Way”.
(Genesis Breyer P-Orridge, aliás, um dos maiores artistas de todos os tempos na minha opinião, mas ainda vou fazer um post em homenagem a esse cara, morto há menos de 2 anos, que deixou uma lacuna gigantesca na lista de pensadores contemporâneos)
De volta ao documentário, felizmente disponível no In-Edit clicando nesse link, veja com calma e perceba que os caminhos que a gente procura em nossas vidas monótonas e idiotas, de vez em quando estão sob formas de obras de arte que a gente pode deixar passar desapercebidas, como uma música, uma história de vida, um filme ou um livro. Sim, este documentário.
NOTA: